quinta-feira, janeiro 18, 2024

CNEC 67/39 - 1/10

 

Tinha de ir a casa da mãe.

E já não sabia bem porquê.

Teriam combinado antes?

Talvez na noite anterior ela lhe tivesse telefonado. À partida não devia estar a precisar de nada, só de companhia.

Não se lembrava do que teriam conversado, se lhe ligara para casa ou para o telemóvel. Ele não se ajeitava bem com o telemóvel, já tinha perdido dois ou três e ia depois à procura de um que não fosse muito moderno para que o soubesse usar. Procurou nos bolsos do casaco para concluir que se calhar tinha perdido mais um.

Era estranho porque não se lembrava da última vez que tinha estado com ela, a última vez que lhe dera um beijo ou a abraçara. Sentia até um buraco ou aperto no coração ao pensar nisso.

Havia algo que o afligia, mas não conseguia lembrar-se do que era.

E não conseguia andar tão depressa como gostaria. Sobretudo o pé direito doía-lhe, fazia-o coxear, a dor subia-lhe depois pela perna, até à coluna. Porque razão lhe apertaria tanto a bota? Olhou para baixo esperando ver nos seus pés as botas castanhas habituais, mas a do pé direito viu que era preta.

O seu colega no quarto é que tinha umas botas pretas. Às tantas levara-lhe uma bota. Riu para si mesmo ao imaginar o André a andar de botas trocadas. Tal como ele agora.

As ruas confundiam-no. Alguém tinha arranjado os passeios, mas muitas das lojas de que se lembrava tinham fechado para dar lugar a habitações locais e mini-mercados com estrangeiros. Queria pedir informações, mas se calhar nem o iriam perceber. Deviam falar outras línguas.

Às tantas calhou ver-se refletido numa montra…tão velho, talvez com mais idade que a mãe tinha quando morrera.

Lembrou-se então do que lhe doía e regressou ao Lar.

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