Tinha de ir a casa da
mãe.
E já não sabia bem
porquê.
Teriam combinado antes?
Talvez na noite anterior
ela lhe tivesse telefonado. À partida não devia estar a precisar de nada, só de
companhia.
Não se lembrava do que
teriam conversado, se lhe ligara para casa ou para o telemóvel. Ele não se
ajeitava bem com o telemóvel, já tinha perdido dois ou três e ia depois à
procura de um que não fosse muito moderno para que o soubesse usar. Procurou
nos bolsos do casaco para concluir que se calhar tinha perdido mais um.
Era estranho porque não
se lembrava da última vez que tinha estado com ela, a última vez que lhe dera
um beijo ou a abraçara. Sentia até um buraco ou aperto no coração ao pensar
nisso.
Havia algo que o afligia,
mas não conseguia lembrar-se do que era.
E não conseguia andar tão
depressa como gostaria. Sobretudo o pé direito doía-lhe, fazia-o coxear, a dor
subia-lhe depois pela perna, até à coluna. Porque razão lhe apertaria tanto a
bota? Olhou para baixo esperando ver nos seus pés as botas castanhas habituais,
mas a do pé direito viu que era preta.
O seu colega no quarto é
que tinha umas botas pretas. Às tantas levara-lhe uma bota. Riu para si mesmo
ao imaginar o André a andar de botas trocadas. Tal como ele agora.
As ruas confundiam-no.
Alguém tinha arranjado os passeios, mas muitas das lojas de que se lembrava
tinham fechado para dar lugar a habitações locais e mini-mercados com
estrangeiros. Queria pedir informações, mas se calhar nem o iriam perceber.
Deviam falar outras línguas.
Às tantas calhou ver-se
refletido numa montra…tão velho, talvez com mais idade que a mãe tinha quando
morrera.
Lembrou-se então do que lhe
doía e regressou ao Lar.
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