sexta-feira, outubro 27, 2023

Texto para tentar participar em Colectânea com Poemas e Textos de Natal da Lugar da Palavra

 

 

Perto do Natal…

 

Faltavam poucos dias para o Natal e já tinha quase todas as prendas para oferecer – livros, roupa (sobretudo meias) chocolates e alguns brinquedos.

Contudo havia um livro que queria muito encontrar.

Lera sobre ele na biografia de um escritor que admirava, como tendo-o influenciado e na Net descobrira que há muitos anos teria havido uma edição limitada de um dos seus livros.

Alguém falou‑lhe duma livraria especial em Lisboa, aproveitou uma boleia e chegou lá, perto da hora do almoço.

A livraria era realmente diferente, com uma bicicleta suspensa no tecto, dois andares, estantes e recantos para leitura. Quase sem procurar foi atraída para um livro antigo. Parecia ser o que queria, mas estava em inglês. Resolveu almoçar – uma fatia de tarte e um café - enquanto decidia se o ia levar ou não. Sentou-se numa mesa afastada. Abriu a capa e viu que o livro estava ainda lacrado. Vencida pela curiosidade desculpou‑se com a ideia que iria cortar as páginas tão cuidadosamente como ninguém mais faria.

Cortou a primeira folha e surgiu-lhe não uma dedicatória, mas um aviso:

“Não inicie a leitura se não estiver preparado para deixar para trás tudo o que até agora conheceu

Com a faca cortou o lacre da página seguinte. Novo aviso:

“Se não estiver preparado para deixar tudo o que até agora conheceu não leia em voz alta a frase que se segue.”

Não resistiu, e leu a frase embora em voz não muito alta. Sentiu uma vertigem. Pensou se seria o anunciar de uma enxaqueca ou a fome por estar em jejum. Olhou para a frente, enquanto a visão se fixava. Sobre a mesa de madeira, a xicara de café aparecia‑lhe agora como uma caneca de chá. Ao lado, a máquina de expresso desaparecera. Apenas livros antigos a rodeavam, ao invés das pessoas que antes ali se encontravam, entrevia vultos mais baixos e errados, e estranhamente escurecia.

Nova página:

 “Poderá ainda voltar atrás se repetir a frase ao contrário.”

Se prosseguisse, talvez visse a descobrir um universo paralelo, povoado de criaturas diferentes, mas poderia voltar?

Pensou no que iria perder, nas pessoas que eram importantes para si e com quem se iria reunir no Natal.

Voltou a ler o terceiro aviso:

 “Poderá ainda voltar atrás se repetir a frase ao contrário.”

Fê-lo. Repetiu a frase ao contrário, apercebeu-se que tudo regressara ao normal. Largou o livro e fugiu.

Voltou alguns dias depois, mas nunca mais encontrou o livro…

E o que faria quem me lê?

Escolheria a celebração do Natal ou a descoberta de um outro Universo?

 

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