Perto do Natal…
Faltavam poucos dias para o Natal e já tinha quase todas as prendas para
oferecer – livros, roupa (sobretudo meias) chocolates e alguns brinquedos.
Contudo havia um livro que queria muito encontrar.
Lera sobre ele na biografia de um escritor que admirava, como tendo-o
influenciado e na Net descobrira que há muitos anos teria havido uma edição
limitada de um dos seus livros.
Alguém falou‑lhe duma livraria especial em Lisboa, aproveitou uma boleia e
chegou lá, perto da hora do almoço.
A livraria era realmente diferente, com uma bicicleta suspensa no tecto,
dois andares, estantes e recantos para leitura. Quase sem procurar foi atraída
para um livro antigo. Parecia ser o que queria, mas estava em inglês. Resolveu
almoçar – uma fatia de tarte e um café - enquanto decidia se o ia levar ou não.
Sentou-se numa mesa afastada. Abriu a capa e viu que o livro estava ainda
lacrado. Vencida pela curiosidade desculpou‑se com a ideia que iria cortar as
páginas tão cuidadosamente como ninguém mais faria.
Cortou a primeira folha e surgiu-lhe não uma dedicatória, mas um aviso:
“Não inicie a leitura se não estiver
preparado para deixar para trás tudo o que até agora conheceu“
Com a faca cortou o lacre da página seguinte. Novo aviso:
“Se não estiver preparado para deixar
tudo o que até agora conheceu não leia em voz alta a frase que se segue.”
Não resistiu, e leu a frase embora em voz não muito alta. Sentiu uma
vertigem. Pensou se seria o anunciar de uma enxaqueca ou a fome por estar em
jejum. Olhou para a frente, enquanto a visão se fixava. Sobre a mesa de
madeira, a xicara de café aparecia‑lhe agora como uma caneca de chá. Ao lado, a
máquina de expresso desaparecera. Apenas livros antigos a rodeavam, ao invés
das pessoas que antes ali se encontravam, entrevia vultos mais baixos e
errados, e estranhamente escurecia.
Nova página:
“Poderá ainda voltar atrás se
repetir a frase ao contrário.”
Se prosseguisse, talvez visse a descobrir um universo paralelo, povoado de
criaturas diferentes, mas poderia voltar?
Pensou no que iria perder, nas pessoas que eram importantes para si e com
quem se iria reunir no Natal.
Voltou a ler o terceiro aviso:
“Poderá ainda voltar atrás se
repetir a frase ao contrário.”
Fê-lo. Repetiu a frase ao contrário, apercebeu-se que tudo regressara ao
normal. Largou o livro e fugiu.
Voltou alguns dias depois, mas nunca mais encontrou o livro…
E o que faria quem me lê?
Escolheria a celebração do Natal ou a
descoberta de um outro Universo?
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