O post it amarelo
destacava-se na secretária.
Era de mogno, pesada e
antiga, e sobre a mesma, nada mais havia.
Precisou de colocar os
óculos para ler o que lá estava escrito:
“Um dia serás tu”
Seria para ele?
Aquele ainda era o seu
escritório. Pouco a pouco tinha-o esvaziado dos livros e papéis.
Tinha oferecido alguns
dos livros. Assistira à destruição dos papéis - apontamentos sem importância.
Estava pronto para ser
entregue ao seu sucessor no dia seguinte, esvaziado de tudo o que podia lembrar
os dias intermináveis que ali passara.
Nos últimos dias chegara
como sempre de manhã cedo.
Pendurava o sobretudo no
bengaleiro e sentava-se à secretária.
Há muito tempo que ninguém
lhe vinha trazer trabalho. Não tinha reuniões ou projectos. Nada para estudar
ou para preparar. De vez em quando algum colega espreitava pela porta, que ele
deixava aberta. Para confirmarem que ainda ali estava, que não faltara, ou que
ainda respirava.
Saía no final do dia,
cumprindo sempre o horário.
Tinham começado por
preteri-los nas promoções pelos amigos ou graxistas. Quando protestou, disseram-lhe
que estava ultrapassado.
Sabia que o tinham
enviado para canto, desprezando o seu passado na empresa.
Queriam que ele se
despedisse para não terem de o indemnizar. Para o forçarem, deixaram de lhe dar
o que fazer.
Não conseguiram.
Vivera tanto que podia
passar as horas a recordar os bons e maus momentos.
Vencera-os.
Talvez tivesse sido ele a
escrever o post-it, como um aviso para o seu sucessor.
Saiu no final de
expediente. Fechou a porta pela última vez, sabendo que em casa, o esperavam a
sua família e amigos, e o resto da sua vida com eles.
Mistério...
ResponderEliminarBeijinho
Muito real, infelizmente!
ResponderEliminarAbraço
Meu filho passou por experiência similar....:((
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