Para e arranca, para e arranca, travo ou tento
aguentar o ponto-morto.
Antes pouco tempo tinha, cada vez mais, pouco tempo
tenho.
Plot-plot, este barulho do motor não é comum. Parece
meio engasgado.
Vejo sair fumo negro atrás, fumo branco à frente.
O que é que eu faço?
Carrinho vai abaixo, cansado de tantos para e arranca.
Buzinam atrás.
Não sei se é sorte ou azar estar o trânsito tão
parado.
Ouso sair do carro com o ar mais desgraçado do mundo.
Vejo rostos fechados, sol e calor.
E se se incendeia ou explode?
Melhor estar parado, e já não sai fumo.
Carros atrás manobram para ultrapassar pelo lado, são
por sua vez buzinados pelos da fila em que se enfiam. Mais eis que então surge
o bom samaritano.
Vinha atrás, apercebeu-se, parou o carro dele para a
berma.
- Quer ajuda amigo?
Quero sim, quero sim. Digo:
- O que podemos fazer?
Incluo-o na minha devastação.
- Vamos empurra-lo para a berma. Coloque-o em ponto
morto.
Bom samaritano é forte e carro é pequeno, conseguimos
os dois levá-lo para a berma.
Por momentos ficamos a ver os outros carros a
passarem.
Daqui o trânsito já não parece tão lento.
Ligo para Mediador de Seguros, depois para a
Seguradora, a seguir para quem me esperava, e aguardo o Reboque.
Sexta-feira ao final da tarde, na auto-estrada
Porto/Lisboa, vai demorar.
Antes pouco tempo tinha, agora que já não contam
comigo, todo tempo tenho.
Bom samaritano espera comigo. Ganho talvez um amigo.
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