quinta-feira, agosto 17, 2023

CNEC 65/37 - 9/10

  

Estava nervoso, mas o cansaço fê-lo desistir do estudo àquela hora. Amanhã acordaria mais cedo e com a cabeça fresca seria mais fácil entrar na matéria.

Vestiu o pijama, marcou no despertador a hora, entrou na cama, escorregando entre os lençóis, e desligou a luz.

O mundo ao redor mergulhava no silêncio e na escuridão, mas a ele parecia-lhe que entrava num reino de sombras e pensamentos.

Devia dormir, mas não conseguia desligar-se do que o preocupava. Quase lhe parecia que escutava o correr do sangue no latejar da leve dor de cabeça e sentia o bater do coração acelerado.

O tempo esticava-se indiferente ao seu desejo de repouso.

O relógio avançava, cada tic-tac um lembrete constante da passagem lenta das horas.

Até o seu quarto lhe parecia diferente. Era normalmente um refúgio de tranquilidade, mas transformara-se num labirinto de sombras que dançavam nas paredes e assumiam formas grotescas e assustadoras.

Devia fechar os olhos, mas teimava em abri-los, o seu próprio corpo o traia. Fixava o tecto, ou vagueava sem rumo, desperto e sobressaltado com ideias e lembranças.

A cama e almofada que costumavam oferecer-lhe conforto, revelavam-se hostis, não assumia a primeira uma forma confortável, abafavam-no os cobertores para logo gelar se os afastava.

Virava-se na cama, procurando em vão posições confortáveis.

A sensação de inquietação crescida nele como uma onda que ameaçava submergi-lo.

Apesar do cansaço sentia-se preso àquele estado de vigília persistente.

 

Apercebeu-se então que a aurora se aproximava, a escuridão cedia relutantemente e a noite chegava ao fim.

Lá fora o mundo começava a agitar-se.

A ele restava a exaustão física e mensal, a lembrança vivida da batalha perdida contra os seus demónios internos durante as longas horas da escuridão silenciosa.

Que se lixe, faria no exame na segunda época, decidiu e então adormeceu.

 

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