Estava nervoso, mas o cansaço fê-lo desistir do estudo àquela hora.
Amanhã acordaria mais cedo e com a cabeça fresca seria mais fácil entrar na
matéria.
Vestiu o pijama, marcou no despertador a hora, entrou na cama, escorregando
entre os lençóis, e desligou a luz.
O mundo ao redor mergulhava no silêncio e na escuridão, mas a ele
parecia-lhe que entrava num reino de sombras e pensamentos.
Devia dormir, mas não conseguia desligar-se do que o preocupava. Quase
lhe parecia que escutava o correr do sangue no latejar da leve dor de cabeça e
sentia o bater do coração acelerado.
O tempo esticava-se indiferente ao seu desejo de repouso.
O relógio avançava, cada tic-tac um lembrete constante da passagem lenta
das horas.
Até o seu quarto lhe parecia diferente. Era normalmente um refúgio de
tranquilidade, mas transformara-se num labirinto de sombras que dançavam nas
paredes e assumiam formas grotescas e assustadoras.
Devia fechar os olhos, mas teimava em abri-los, o seu próprio corpo o
traia. Fixava o tecto, ou vagueava sem rumo, desperto e sobressaltado com
ideias e lembranças.
A cama e almofada que costumavam oferecer-lhe conforto, revelavam-se
hostis, não assumia a primeira uma forma confortável, abafavam-no os cobertores
para logo gelar se os afastava.
Virava-se na cama, procurando em vão posições confortáveis.
A sensação de inquietação crescida nele como uma onda que ameaçava
submergi-lo.
Apesar do cansaço sentia-se preso àquele estado de vigília persistente.
Apercebeu-se então que a aurora se aproximava, a escuridão cedia
relutantemente e a noite chegava ao fim.
Lá fora o mundo começava a agitar-se.
A ele restava a exaustão física e mensal, a lembrança vivida da batalha
perdida contra os seus demónios internos durante as longas horas da escuridão
silenciosa.
Que se lixe, faria no exame na segunda época, decidiu e então adormeceu.
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