Muitos anos depois aquele verão
seria recordado no prédio e não pelo calor e incêndios que assolavam e marcavam
o país.
O edifício não era novo, na verdade
era até bem antigo, com uma entrada ampla em mármore rosa e um elevador que não
raramente se imobilizava entre pisos, mas em quase todos os andares, os proprietários
ou locatários tinham pendurados nas varandas e janelas, aparelhos de ar
condicionado, e praticamente todos tinham um ou dois cães.
As duas situações tinham sido
debatidas em condomínio e se por unanimidade aprovaram a instalação dos
primeiros (apesar de manifestamente desfigurarem o prédio) quanto aos segundos
erguera-se uma única voz, a da senhora do segundo esquerdo, que por
coincidência não tinha cão e vivia sozinha.
Claro que fora vencida pela maioria
qualificada dos presentes, e nos dias seguintes e durante algum tempo, o
sucedido unira os demais e fora objecto de comentários e piadas sem muita
graça.
O tempo foi passando até que se deu
o primeiro caso.
Culparam os miúdos que tinham ido
passear o Bobi, com a brincadeira esqueceram-se dele, mas de certeza que ele ia
aparecer, era muito esperto o Bobi. Só que não. Os pais dos miúdos saíram à
procura dele, afixaram no átrio e pela vizinhança fotocópias com a sua fotografia
e os contactos. Tudo em vão.
Depois foi a cadelinha da senhora do
1º Direito, a Daisy. Até a polícia chamaram enquanto a dona explicava que
apenas largara a trela para abrir a porta.
Mais três cães desapareceram de
forma cada vez mais estranha e inexplicável.
Parecia até magia, porque aumentavam
o cuidado e a vigilância e de nada valia.
Urgia resolver a situação.
Marcaram uma assembleia extraordinária e foi então que notaram a falta da senhora do segundo esquerdo, que não tinha cão…
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