quinta-feira, agosto 24, 2023

CNEC 65/37 - 10/10

  

Muitos anos depois aquele verão seria recordado no prédio e não pelo calor e incêndios que assolavam e marcavam o país.

 

O edifício não era novo, na verdade era até bem antigo, com uma entrada ampla em mármore rosa e um elevador que não raramente se imobilizava entre pisos, mas em quase todos os andares, os proprietários ou locatários tinham pendurados nas varandas e janelas, aparelhos de ar condicionado, e praticamente todos tinham um ou dois cães.

As duas situações tinham sido debatidas em condomínio e se por unanimidade aprovaram a instalação dos primeiros (apesar de manifestamente desfigurarem o prédio) quanto aos segundos erguera-se uma única voz, a da senhora do segundo esquerdo, que por coincidência não tinha cão e vivia sozinha.

Claro que fora vencida pela maioria qualificada dos presentes, e nos dias seguintes e durante algum tempo, o sucedido unira os demais e fora objecto de comentários e piadas sem muita graça.

 

O tempo foi passando até que se deu o primeiro caso.

Culparam os miúdos que tinham ido passear o Bobi, com a brincadeira esqueceram-se dele, mas de certeza que ele ia aparecer, era muito esperto o Bobi. Só que não. Os pais dos miúdos saíram à procura dele, afixaram no átrio e pela vizinhança fotocópias com a sua fotografia e os contactos. Tudo em vão.

Depois foi a cadelinha da senhora do 1º Direito, a Daisy. Até a polícia chamaram enquanto a dona explicava que apenas largara a trela para abrir a porta.

Mais três cães desapareceram de forma cada vez mais estranha e inexplicável.

Parecia até magia, porque aumentavam o cuidado e a vigilância e de nada valia.  

Urgia resolver a situação.

Marcaram uma assembleia extraordinária e foi então que notaram a falta da senhora do segundo esquerdo, que não tinha cão…

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