quarta-feira, julho 26, 2023

CNEC 65/37 - 6/10

 

 

Quando a minha avó morreu, a minha mãe teve de tratar de tudo para entregar o apartamento ao senhorio num prédio na Av. Duque d’Avila.

Nessa altura fizemos várias viagens a Lisboa, de comboio ou de camionete.

Para a minha mãe, deve ter sido muito difícil e triste, para mim, havia algo de aventura e a morte não era ainda bem real.

Em Lisboa alguns taxistas suscitaram o problema mas aceitaram levar-nos aos cinco, o meu pai à frente e atrás a minha mãe, muito elegante, e as três filhas, a minha irmã mais velha com catorze anos, e eu e a minha irmã mais nova com onze e nove anos, ainda bem miúdas e magrizelas.

Numa noite em que regressávamos de camionete, esperámos muito tempo até chegar um táxi e aqui, no Porto, o motorista foi peremptório, não nos levava aos cinco.

 O meu pai disse então que iria a pé, até porque tendo levado tanto tempo até chegar um táxi, sabe-se lá quando viria outro.

A minha mãe não queria que ele ficasse sozinho, mas com três filhas e as malas, não via como irmos todos a pé.

Aí, eu disse que ia com ele. O táxi afastou-se com a minha mãe, as minhas irmãs e as malas e nós iniciámos o caminho

Era tarde e não se via ninguém pelas ruas, mas não senti receio, dei a mão ao meu pai, tentei acompanhar os seus passos e conversámos até chegarmos a casa.

Lá havia luz e a minha mãe tinha feito torradas e café com leite para comermos.

Senti-me feliz por ver que a minha mãe tinha gostado que o meu pai não fosse sozinho, ter conseguido acompanhar os seus passos, e estarmos depois todos juntos, em casa, a cearmos as torradas e o café com leite.

 

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