Na
minha casa há um quarto fechado no qual não entro.
Passo
pelo corredor como se ali não estivesse uma porta.
Não
me permito lembrar da cor alegre das paredes, dos móveis de cor clara, da brisa
fresca que empurrava o cortinado quando por lá ficava a imaginar como seria.
Tudo
ali era leve e novo, na espera ansiosa pelo que finalmente acontecia.
Naquele
ontem, cada vez mais distante, eu fui outra.
E
é tão estranho porque se me olho ao espelho vejo-me igual.
A
minha voz parece a mesma, converso sobre as mesmas coisas, leio os mesmos
livros, vejo os mesmos filmes, ou tão idênticos, que mais parecem series
repetidas. Trabalho, como, durmo, rio, como trabalhava, comia, dormia e ria.
Aparentemente
igual, como se pudesse nadar à superfície a sombra que se afunda.
Ninguém
nota nada.
Nem
eu, desbotada e vazia, o vejo.
Foi
no antes, pela saúde e pela idade, a ultima oportunidade, milagre verdadeiro e
meu.
Não
o previ, não suspeitei, não sabia como era, o que devia ou não sentir
fisicamente enquanto a barriga crescia.
O
choque e a decepção foram tao avassaladores que nem pensei em pedir uma segunda
opinião, ter a certeza que que não sobreviveria.
Em
segundos parados segui o conselho do médico, mas a decisão foi minha, dolorosamente
minha.
Numa
pequena intervenção separaram-nos e não o quis ver.
Um
dia destes mudo-me, deixo que um incêndio devore a porta, o quarto, tudo o que
o rodeia, a casa toda inteira.
Que
algo marque a diferença, para que a explosão destrua a sombra e talvez assim
possa ressurgir a vida.
muito difícil passar por essa dor sem enlouquecer de vez.... (Sou a Sônia, mas por alguma razão não consigo postar usando meu URL)
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