Numa Lavandaria - CNEC 64/36 - 5/10

 

Numa Lavandaria

 

 

As portas abertas para a rua, deixavam entrar o frio e alguma chuva empurrada pelo vento. As máquinas de um cinzento esverdeado aguardavam imóveis.

Quase ao mesmo tempo entraram dois clientes, um jovem de calções com um grande saco onde parecia ter colocado toda a roupa que tinha, e uma mulher mais velha, Lia, com um gato preto. Estes dois pareciam mais ter vindo à procura de abrigo. Lia sentou-se no banco comprido de frente para as máquinas maiores, e o gato veio para o seu colo. O jovem, Nuno, começou a dividir o conteúdo do saco por duas das máquinas.

Gritos e estampidos da rua assustaram-nos aos três, o gato escondeu-se debaixo do banco. Nuno foi espreitar: “parece um assalto e vêm para aqui”. Gritou para a câmara que seguia os seus movimentos: “há um assalto, chamem alguém!”. Hesitava em fugir para não perder a roupa, até que foi tarde demais, dois homens encapuçados com armas na mão entraram por ali dentro. O primeiro comentou com o segundo: “temos um refém” e com o braço livre agarrou Nuno pelo pescoço. A ele passou-lhe nesse momento tudo pela cabeça, ”que devia ter abandonado a roupa e porque é que não agarravam antes a velha?”, mas olhou então à sua volta, sem perceber - nem sinal de Lia ou do gato, no retângulo verde, sem espaço para mais nada, além das máquinas e banco, apenas lá estavam os três.

Luzes azuis piscaram lá fora e um agente falou pelo megafone:

- “Deitem as armas para o chão e saiam”

- “Temos um refém”, gritou um deles, mas falou demasiado baixo ou demasiado tarde, porque a polícia irrompeu por ali.

Houve tiros e gritos, mas ninguém ficou ferido.

Minutos depois, Lia e o gato saíram ilesos da máquina maior.