quarta-feira, maio 31, 2023

CNEC 64/36 - 6/10 - A Despedida

 

A verdade é que não levara a sério as suas queixas. De vez em quando ainda ensaiava uma ajuda, levava a louça do jantar para a cozinha, chegou a lavá-la uma ou duas vezes.

Agora aquela conversa de dividirem as tarefas é que não parecia ter sentido. Em casa dos pais dele nunca tal sucedera e a sua mãe sempre parecera feliz em servir ao pai e também a ele. Via-a satisfeita a trazer-lhe a comida à mesa e a vê-lo comer, comentava sempre como ele estava magrinho (apesar da barriguinha que lhe ia crescendo) e que “a Celina às tantas nem sabe cozinhar, não como ela, afinal trabalhar fora não lhe deve deixar tempo para tratar da casa e do marido. Sem dizer nada, ele concordava. Parecia-lhe algumas vezes que ela ligava mais ao trabalho do que a ele e nada se comparava à comida da sua mãe.

O tempo ia passando e até a via cansada, mas a culpa devia ser do emprego. Quando ela foi promovida, deu-lhe os Parabéns, mas ficou preocupado. Preocupado com ela, claro. Um cargo superior, maior responsabilidade, sem dúvida mais exigente também. A certa altura resolveu falar com ela se não teria sido melhor recusar. Escolheu talvez uma má altura porque ela tinha vindo com a velha conversa de dividirem as tarefas. Percebeu que ela ficava aborrecida, mas não estava à espera do que veio depois.

Segunda-feira chegou a casa ao final do dia e estava tudo silencioso, nem luzes e nem comida. Viu então a carta e era de despedida.

Mal podendo acreditar, tentou viver sem ela o resto da semana. Mais do que pelo trabalho, sentiu terrivelmente a sua falta.

Aí mudou. Primeiro esforçou-se para a convencer a regressar e depois provou-lhe que a divisão de tarefas era para ficar!

2 comentários:

  1. Começa a divisão de tarefas lá em casa porque a empregada vai de férias no final da semana.
    Beijinho

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  2. Para grandes males, grandes remédios.
    Abraço e saúde

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