sexta-feira, maio 26, 2023

A carta - CNEC 64/36 - 8/10

  

Na estação dos correios todos trabalhavam afincadamente para garantir que as cartas chegavam aos seus destinatários.

O carteiro Lopes saiu para a distribuição, mas distraiu-se por segundos com um pássaro colorido que voava pelos céus, não se apercebendo que deixara cair uma carta

Logo atrás seguia um pequeno escuteiro que ia a comer as bolachas que conseguira não vender.

Ao ver a carta entusiasmou-se com a possibilidade de conseguir a sua boa acção do dia. Infelizmente não tinha ainda aprendido bem a ler e foi no receptáculo da casa mais próxima que enfiou o envelope.

Naquela carta Vasco declarava-se a Ana na esperança de impedir o seu casamento já marcado com André, mas quem recebeu a carta foi Inês, vizinha de Ana.

Ela apercebeu-se a quem a carta era dirigida, mas algo a impeliu a abri-la e a ler.

As palavras eram tão profundas e genuínas que tocaram o seu coração. Viu-se imersa numa história de amor que parecia ter sido escrita para ela. Passou a reler a carta todos os dias, e cada dia parecia-lhe mais difícil ir entrega-la a Ana. Como poderia explicar-lhe que a tinha aberto? E afinal, apesar de serem vizinhas desde crianças, Ana nem sequer a tinha convidado para o casamento.

No dia marcado resolveu passar pela Igreja. Levava a carta na carteira. Esperava talvez uma oportunidade de se redimir. O noivo entrou nervoso e feliz. Ana chegou pouco depois, mas quando Inês se dirigia a ela, ignorou-a. Inês ficou por lá algum tempo para concluir que pareciam felizes.

Ao sair da Igreja a luz do sol cegou-a e tropeçou. Quase caía, mas um jovem bonito e triste amparou-a. Sentiu que algo os ligava e adivinhou que viriam a ser próximos, mas nunca lhe contou que ficara com a carta que ele escrevera a Ana.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário