quinta-feira, abril 27, 2023

Leve toque - CNEC 64/36 - 4/10

 

 

Leve, leve toque de mãos, a sua na dela.

Caminhavam lado a lado, no final da manhã. Pelas ruas por onde passavam, de alguns restaurantes e tascas vinha o chamamento do peixe grelhado ou da vitela assada.

O sol já quase queimava num prenúncio do esvaziamento das ruas quando quase todos se refugiariam em casa, na travessia da tarde quente e longa.

Por momentos o tempo parou. Ninguém vira ou percebera. Só os dois o sentiram.

Ela continuou a sorrir e a conversar, como se nada tivesse sucedido, mas não se afastou, e ele resolveu arriscar mais ainda, segurou-lhe a mão esquerda na sua direita, e nos novos passos, seguiram de mãos dadas.

Ela continuou a contar-lhe o que se passara na sua classe, um pouco mais afogueada e rosada, e poderia ser do calor.

Ele absorto no momento, acenava-lhe em concordância, mas quase não a entendia. De repente, o português falado passara a língua estrangeira. Quando chegarmos a casa dela, beijo-a? O que é que lhe digo?

Com tanto calor, a mão dela era fresca e suave.

Demasiado cedo chegaram à porta do prédio onde ela morava.

Indeciso e hesitante, avançou, mas beijou-a na face, ela ia afastar-se, quando lembrou-se de lhe perguntar: “Queres sair logo à noite?”

- “Quero sim, Rui”

O nome dele soou diferente, dito por ela. Sorriram um para o outro antes de se afastarem.

Cá fora, tudo lhe parecia mais brilhante e com sentido. A Dora, ia ser sua namorada, e tudo começara com um toque de mãos.

Sem comentários:

Enviar um comentário