Pedro
Paulo, Paulo Pedro.
Não
conseguia lembrar-se da ordem certa.
Raiva
e medo.
Enfureciam-na
as confusões e esquecimentos. Assustavam-na também.
Se
tivesse ficado com ele, talvez tivessem tido filhos, pelo menos um rapaz, ou
uma menina, que agora tomaria carinhosamente conta dela. A não ser que saíssem
tortos. Via-se cada coisa hoje em dia. Filhos a bater nos pais, pela droga ou
vinho, ou por não serem bons da cabeça.
Melhor
não os ter tido. Mal por mal, mais valia assim. Tinha as suas coisas, a sua
casinha, uma reforma pequena que para ela dava, mesmo com a subida de preços,
ia dando.
Tinha
também as suas memórias.
Houve
uma altura em que foi jovem e até bonita. Muitos homens reparavam nela. Pronto,
talvez fossem só alguns, ou um ou dois.
Um
deles foi o Pedro Paulo ou Paulo Pedro.
Meteu
conversa com ela. Falar sabia ele. Num piscar de olhos eram namorados. Tudo lhe
apareceu então como fácil e possível, o mundo mais brilhante e intenso.
Os
seus pais é que não gostaram dele. “Vivia sozinho, não tinha ninguém, nem tinha
um ofício certo. De que iriam viver?” Foram-na encostando à parede. Ele também
não ajudou. Queria que viesse com ele, virasse costas à sua família. Se gostava
dele a sério, tinha de optar. Os seus dias tornaram-se difíceis, com caras
fechadas dos dois lados. De noite sonhava que se davam todos bem. Até que
deixou de sonhar.
Numa
última conversa com ele – e não sabia que seria a última – tentou convencê-lo a
que namorassem às escondidas, só até aos pais o aceitarem. Ele zangou-se,
disse-lhe que se iria embora, que ela nunca mais o ia ver.
Acabaram
zangados.
Nunca
mais gostou de alguém assim.
Talvez
esquecê-lo não fosse assim tão mau. Esqueceria também toda a amargura do
arrependimento.
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