CNEC 63/35 - 4/10 - Super-herói

 

 

Eu sou o super-herói do Porto.

Não apenas um super-herói entre outros, mas acredito que verdadeiramente especial, embora para já ainda seja o único a achá-lo. Aqui os moradores conhecem-me como “o herói trapalhão”. Nem super lá metem. Há anos que luto contra essa designação, mas até hoje sem sucesso. Também ainda não me ocorreu o que propor em substituição. Todos os bons nomes já estão tomados e não tenho tido sorte em destacar-me, pelo menos em algo positivo e admirável.

Começo a sentir-me muito cansado. Tenho sido sempre corajoso e estou sempre pronto para salvar vidas, mesmo quando as coisas não correm bem.

Ser míope não ajuda a que consiga rapidamente identificar os agressores e já me aconteceu salvar o bandido que os populares queriam linchar. O que pensando bem não foi assim tão mau, evitei que se tornassem assassinos e o bandido pareceu-me muito grato enquanto se afastava. Infelizmente nunca mais o vi.

O pior foi quando empurrei uma velhinha que estava a ser assaltada. Felizmente ela não ficou ferida e levantou-se logo, mas disso as pessoas não se esquecem.

Não dá para andar com óculos porque ficam embaciados e caiem quando voo e tenho a vista sensível para andar muitas horas com lentes, mas nisso ninguém pensa.

Ainda não desisti porque receio que se o fizer ainda se esquecem completamente de mim. Queria reformar-me com um último acto heróico e inesquecível. Por isso vou continuar a arrastar-me pela cidade, míope e exausto, mas a lutar contra o crime, a prender os agressores e a salvar as vítimas, desde que consiga vê-los…