quinta-feira, janeiro 19, 2023

CNEC 35/63 - Olho pela janela 1/10

 Olho pela janela da sala para lá para fora.

Estou na casa dos meus pais, onde cresci. A casa tem mais anos do que eu.

Começa a escurecer, e no Verão é a minha parte preferida do dia.

Mas não gosto quando escurece mais cedo e bruscamente nos dias de Inverno. Surpreende-me às vezes no trabalho e sei que depois vou ter de conduzir na escuridão da noite, com o encadeamento dos carros com que me cruzo, antes de chegar ao calor e luz em casa.

Regresso ao presente e vejo o pequeno quintal à frente e o gradeamento branco. No muro, dois gatos, que às vezes se zangam, um cinzento mais distraído e um preto que olha para mim, qual mini pantera, aparentemente calmo, mas muito atento ao que se passa em seu redor

Na rua há apenas casas e muitos carros estacionados. Só de vez em quando passa algum.

Ali não há lojas ou prédios. De manhã, esgotam-se os lugares de estacionamento para quem trabalhará perto. De tarde, vão-se embora, e a rua fica mais larga.  Quando era criança, até estacionados eram poucos. Dava para jogar badmington e andar de bicicleta saltando do passeio para a rua. Aumentou o número de carros e diminuíram as pessoas. De manhã os pais levam os filhos para a escola de carro (eu ia a pé porque não ficava longe). Não se veem crianças sozinhas na rua, a ir ou voltar da escola, ou a brincar. Também já ninguém vem de manhã deixar pães nos sacos de pano, pendurados nas portas.

Escurece e já não vejo a rua, mas o meu reflexo.

O cabelo escuro, nada de rugas, quiçá pela falta de luz.

E com todas as perdas sofridas e alguns ganhos a que me agarro nas tempestades, ainda me reconheço.

 OU

Era uma noite escura e tempestuosa, e eu estava deitada na minha cama, olhando para a janela mais próxima. O mundo inteiro parecia querer que eu saísse da cama, amigos, familiares, até mesmo o meu gato estava me encarando como se dissesse "vamos lá, é hora de sair da cama". Mas eu gostava de ficar ali, aconchegada e segura.

Eu sabia que lá fora havia uma tempestade, e eu não estava preparada para enfrentá-la. Mas havia algo que me impelia a sair da cama, algo que eu via pela janela mais distante. Era como se essa janela me oferecesse uma perspetiva diferente, uma visão mais ampla do mundo. Eu via o horizonte, e sentia uma vontade incontrolável de me levantar e seguir em frente.


 Mas então eu pensei, "Por que sair da cama quando posso enfrentar a tempestade no conforto da minha cama quente e aconchegante?" E assim eu fiquei rindo sozinha, enquanto o mundo inteiro lutava contra a tempestade lá fora, eu estava feliz e segura na minha cama.

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