Olhando para trás e detesta fazê-lo, persegue-a o
arrependimento e a ideia de que esteve tão perto de poder finalmente ter tudo,
como deveria ter.
Há semanas recebeu uma carta dele ou melhor do
advogado dele, na finalização do divórcio, também aflorava – propositadamente sem
dúvida – que ele estava nas Caraíbas. Rasgou a carta e tentou em vão
esquecê-lo.
Durante meses representara o papel da esposa extremosa
e preocupada. Ia visitá-lo ao Hospital e levava-lhe roupa e comida.
A certa altura percebeu que desconfiavam dela, apenas
pela coincidência do seu estado se agravar quando das visitas.
Faltava muito pouco então. Estudara com afinco no Google
as doses necessárias. Aquela desconfiança seria facilmente afastada quando a
vissem desesperada com a morte dele. Preparava já a sua reacção e o que faria
depois. Avançar rapidamente para a cremação do corpo, vender-lhe a casa e
demais bens – afinal era a única herdeira – e partir para outra cidade onde
ninguém a conhecesse e poderia reinventar-se.
Levou-lhe o suco com a última dose. Ajudou-o a erguer
o tronco para que bebesse por uma palhinha enquanto o olhava nos olhos. Ele
emagrecera imenso, a diferença dos dois era ainda mais marcante. Ela jovem, saudável,
viva. Ele quase o cadáver que em breve deveria ser.
Chegou a casa com a sensação do dever cumprido. No dia
seguinte iriam sem dúvida comunicar-lhe a sua morte. Nessa noite dormiu bem e
descansou. De manhã escolheu com cuidado a roupa e seguiu para o Hospital
estranhando levemente não lhe terem ligado ainda.
O quarto dele estava vazio.
Preparava-se para a sua grande cena quando uma
enfermeira eufórica lhe veio anunciar: ele tivera uma recuperação milagrosa e
assinara a sua própria alta.
Correu para casa, onde ele não estava, para descobrir
que esquecera de misturar a última dose do veneno no suco…
Safa, Gábi...esta história escreveste-a tu?
ResponderEliminarMas que narrativa macabra. Foi para mim uma enorme surpresa saber que oTio Google ensine estas tácticas de envenenamento suave.
Mulherzinha premeditada e diabólica essa... bem feito se ele a deixar sem um cêntimo depois do divórcio...:)
Gracinhas àparte dou-te os parabéns pela tua fértil imaginação .
Beijinho e boa sorte. :)
Não estive a confirmar se o Google realmente o ensina :)
EliminarMuito obrigada Janita e um beijinho grande
Fiquei em suspense e é caso para dizer que !o feitiço virou-se contra o feiticeiro. A tua imaginação narrativa é genial.
ResponderEliminarBeijos e um bom dia
Muito obrigada Fatyly em modo Natal :) um beijinho grande e um bom dia também
EliminarUm ato falho. Psicanaliticamente falando, poder-se-ia dizer que ela não o queria morto? Este é um conflito do inconsciente. O melhor é a imaginação, a invenção, a criação, o suspense... E sedução do leitor ou a curiosidade!
ResponderEliminarE a pergunta que não quer calar: o que será feito da moça agora?
Entre outras coisas, a beleza está na ausência do ponto final. Este ficará por conta do leitor... E quanto a narrativa se expande...
Um abraço, Gábi
ah! O título poderia ser psicanalítico "Um esquecimento (im)perdoável"
EliminarHá esquecimentos que mudam uma vida. Este mudou duas. Adorei a trama. Muito bom.
ResponderEliminarAbraço, saúde e bom domingo