quinta-feira, novembro 03, 2022

CNEC 62/34 - 4/10 - O puzzle

 

O puzzle…

 

Estava sem ideias. Ainda não a conhecia bem para lhe dar uma joia, ou saber do que ela gostava. Viu-o e pensou “podia ser uma prenda gira”. Ainda mais estava em promoção.

 

Na hora da oferta, se ela ficou decepcionada disfarçou.

 

Que estranho, um puzzle.

Será que ele gosta destes quebra-cabeças?

Na pré-primária deram-lhe um para brincar. Não gostou. Era fácil, mas fê-lo contrariada porque preferia pintar com os dedos.

Este era de cinco mil peças, cores e tons semelhantes, detalhes minúsculos, peças aparentemente iguais na forma.

Será que ele gosta mesmo disto?

Nos encontros seguintes, se sabia que ele ia subia, colocava o puzzle na mesinha da sala, juntou algumas peças, nem sabia se estariam todas certas.

Nas vezes em que ele ficou, nenhum dos dois reparou se o puzzle estava ou não na mesa, centrados um no outro, a libertarem-se da roupa e a seguirem para o quarto, abraçados, a beijarem-se e a despirem-se, ele a tropeçar em algum móvel cujo local não decorara ainda, nem sentia dor, só calor e prazer.

Depois, com o tempo a passar, sobretudo quando estavam atrasados, ela era um bocado chata a insistir para ele subir, especialmente quando era para saírem de seguida. Sim estava gira. Não, ele não ia beber além da conta. Não, não iam demorar – ela não gostava lá muito dos amigos dele, mas ele também não apreciava por aí além os dela.

Aumentaram as discussões, distanciaram-se no tempo e arrefeceram as reconciliações.

Ele deixou de subir. Foi num café que puseram o ponto final definitivo, aquele que era mesmo para valer.

Quando chegou a casa ela viu o puzzle incompleto e pensou em atirá-lo pela janela, mas acabou por o atirar para o armário. Talvez um dia pudesse oferecê-lo a outrem…e esqueceu-se dele

 

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