quarta-feira, agosto 17, 2022

CNEC 61/33 - 4/10 Não fui eu

 

Não fui eu!

Não fui eu que rachei a jarra.

A jarra rachou porque caiu da mesa.

Porque é que caiu da mesa?

Porque alguém esbarrou nela.

Não fui eu!

Não ia a correr distraída e fui contra a mesa.

O que podia ter dito e não disse.

Foi o gato. Meteu-se entre as minhas pernas, não o vi, fez-me tropeçar.

Foram as manas que me empurraram porque vinham a correr e não me viram ou estavam zangadas comigo.

Foi um rato a fugir do gato que saltou para a mesa e foi contra a jarra.

Ou foi o gato a fugir do cão.

Ou o cão a fugir das manas.

Não sou acusa-pilecas. Não posso dizer quem foi. Se foi o gato, ou o rato, ou o cão ou as manas.

Não fui eu!

Foi um terramoto, mas fraquinho, mal se sentiu. Fez tremer as chávenas nos pires e os copos no armário e estremecer a mesinha onde estava a jarra, e a jarra caiu.

Não fui eu!

Pode ter sido um fantasma. Estava escuro. O fantasma assustou-se com o terramoto (ninguém contava com ele). Foi contra a mesinha onde estava a jarra e mandou-a para o chão.

Não fui eu!

Foi o tapete que não estava no lugar, mas levantando ou enrolado, e não abraçou a jarra como devia, quando esta caiu.

Foi o chão que é duro.

Não fui eu!

E eu nunca minto.

3 comentários:

  1. Não fui eu é a atitude típica do gato.
    Que fez escola aqui em Macau.
    Beijinho

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  2. Muito bem.. Haverá sempre um porquê das coisas acontecerem :))
    -
    A vida, é como uma janela aberta ...

    Beijos. Boa Quinta-Feira!

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  3. Bom dia Redonda, gostei desta "Crónica de uma acusação infundada", quase parecendo algumas acusações, que são puras invenções, ou como aquelas magníficas que a Autoridade Tributária imputa ao contribuinte!
    Mas na fértil imaginação de uma criança, sem ainda os filtros que os adultos colocam, o seu texto está ótimo.
    Bom fim de semana.
    Etan Cohen

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