quarta-feira, agosto 10, 2022

CNEC 61/33 - 3/10 Reencontro

 

Vinte, vinte-uma, vinte-duas.

O som da palmatória na mão estendida enquanto contava. Tantas reguadas quantos os erros no ditado. Havia quem só tivesse um ou dois, como o sorridente Mário, mas do outro lado, o triste Nuno ultrapassava os vinte.

No colégio de Padres, na mesma sala juntaram a primeira classe, onde eu estava e a segunda. Na segunda tinham os ditados.

A nossa professora, Drª Virgínia parecia a Madrasta da Branca Neve na versão Rainha Má, cabelo preto, elegante e bonita, a distribuir reguadas.

Deu-nos trabalho para as férias, várias cópias. Não fiz nenhuma e recebi com júbilo a notícia que a partir dali ia para a escola oficial, Escola Primária de Santa Eulália, que ficava mais perto.

Nunca mais voltei a ver a Drª Virgínia. Não sei se ouvi ou sonhei que teria morrido pouco depois com tétano.

Se a voltasse a encontrar agora, aposto que estaria igual. Ainda elegante e bonita, com o cabelo preto, mesmo que agora por ser pintado. Ela não me ia reconhecer. Quase de certeza que serei mais alta (cresci só um pouco além da média das minhas colegas) e mudei tanto que nem eu me reconheceria. Iria ter com ela com a confiança adquirida pelos anos que passaram e perguntar-lhe-ia se sabia quem eu era.

Se ela estivesse com tempo e bem disposta dar-me-ia alguns minutos. Talvez para me despachar dissesse que se recordava de mim. Se me perguntasse pelas cópias que não fiz, seria eu a fingir, mas o contrário, dir-lhe-ia que não me lembrava daquele trabalho para casa.

Tive a sorte de aprender como se fosse um jogo, a escrever e a contar, e só apanhei uma ou duas reguadas (injustas, claro).

Na despedida, ao pensar em tudo que se passou depois, dir-lhe-ia apenas, por ter sido minha professora, obrigada.

8 comentários:

  1. A Dona Alda e o Bentes, o "Rato Atómico".
    O Arlindo levou tanta reguada!!
    Só levei uma ou duas.
    Injustas, também.
    Beijinho

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    1. Pelos vistos muitos Nunos e Arlindos terão sofrido com as reguadas
      um beijinho

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  2. Uma doutora no 1°ciclo e a dar reguadas é mesmo uma história de terror!

    Abraço

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    1. Quando passei para a Oficial isso acabou,mas ainda vi uma professora perder a cabeça com uma colega e bater-lhe e chamar-lhe estúpida - achei terrível e fiquei com muita pena dela
      um abraço

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  3. Quando eu andava na primária, na minha santa terrinha, cheguei a levar 20 reguadas em cada mão só porque me tinha esquecido do caderno dos trabalhos de matemática em casa. Maldita seja essa professora.
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    Abraço poético de amizade
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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    1. Ainda bem que em princípio acabaram as reguadas
      um abraço

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  4. Fartei-me de apanhar reguadas (antes do 25 de Abril, claro) porque falava pelos cotovelos...LOL. Coitada de mim! Era filha única!
    UmaMaria

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    1. Mesmo depois do 25 de Abril ainda continuaram, mas actualmente acho que felizmente já pararam, embora às vezes pareça que caímos num outro extremo em que são os alunos ou pais deles que batem nos professores
      um abraço

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