Devia
ir para casa, mas podia ficar ali sentado um pouco mais.
O
banco tinha sido vermelho, agora estava algo descolorido e desengonçado. Nada
apto a atrair a atenção, especialmente porque a Primavera ressurgia em força.
Arbustos e ramos de folhas verdes estendiam-se e cobriam-no em parte.
Ainda
assim, raios de sol chegavam até ele.
De
onde estava, ouvia o chilrear dos pássaros, via-os a esvoaçar por entre as
árvores.
Estranho
como nenhuma das pessoas que atravessam o jardim parece reparar na cor e vida
que os rodeia.
Andam
apressados e de rostos fechados.
Há
meses tivera um acidente. Ia a atravessar a rua, pela passadeira em frente.
Confiou nos seus ouvidos, não olhou. O carro atingiu-o do lado esquerdo. Sentiu
a pancada que o projectou, bateu com a cabeça no chão. Estranhos rodearam-no.
Tiraram-lhe a luz e o ar. Não conseguia respirar e o coração batia-lhe no peito
em espasmos que mais o assustaram, até que deixou de bater.
Sentiu
que afundava num buraco escuro, sem luz no final do túnel.
Não
se lembra de ter estado no Hospital.
Viu-se
de novo ali no jardim. Não sabe bem se a pancada lhe roubou a memória. Será por
isso que lhe parece difícil ir para casa?
Ou
se passou para o outro lado. Nenhuma das pessoas apressadas que por ali passam
parece vê-lo. Talvez devesse interpelá-las.
Sentiu
então um toque leve no seu braço. O menino frágil ao seu lado pareceu-lhe
vagamente conhecido: “avô, vamos para casa?”
Ainda
estava vivo e tinha um neto que sabia o caminho para casa.
Afinal aquele era um bom dia para sentir o calor do sol também dentro de si.
Sem comentários:
Enviar um comentário