Abel tinha tudo planeado. Sabia dos seus hábitos nas
sextas à noite. Ia para os copos e regressava sozinho. Desde que ficara sem
carta vinha a pé. Ia apanhá-lo no caminho. Seria um aviso para todos, com a
mulher dele ninguém mexia. Mesmo que a Ana se tivesse metido a parva, a dizer
que tinham acabado. Só quando ele o dissesse. E ainda assim, não ia admitir que
qualquer um ocupasse o seu lugar. Trazia uma faca escondida no casaco, sabia
onde a espetar para o deixar no chão a sangrar como o porco que era.
Nesse dia, Pedro da mesma idade que eles, até se tinham
cruzado na escola, mas sem se falarem e nem de vista se reconheceriam pelos
anos que tinham passado, saiu da consulta em choque. O especialista não poupara
nas palavras e não lhe deixara muita esperança. Nem daria para operar já,
primeiro tinham de tentar a quimio.
Parou no mesmo bar que o Ruivo. Viu-o beber em grupos,
animados e barulhentos. Seriam da sua idade, mas sentia-se tão mais velho do
que eles. Por alguma razão começaram a falar. O Ruivo lembrava-se dele ou já
meio tocado, assim o afirmou, e pediu-lhe boleia.
Pedro saiu para ir buscar o carro. Pensou então no que
fazia ali. Estivera quase a dar boleia a um desconhecido bêbado. Tinha é de ir
para casa, falar com a mulher. Pensar nela e nos filhos. Viu o Ruivo na porta à
sua espera e acelerou para o evitar. O homem não devia mesmo ser boa-rés.
Começou a gritar-lhe “filho da puta” e vinha atrás dele. Guinou para outra rua
e galgou o passeio. Embateu em algo, parecia um homem. Ficou lá estendido sem
se mexer. O bêbado conhecia-o, chamou-lhe Abel. Ainda se viravam os dois contra
ele. Fugiu.
Um conto interessante! Gostei de ler :)
ResponderEliminar.
Coisas de uma Vida
Beijos. Votos de um bom feriado.
(mais um comentário que estava escondido) muito obrigada Cidália, um beijinho uma boa noite e bom fim-de-semana
ResponderEliminarE ainda há quem não acredite no destino...
ResponderEliminarBeijinho, bfds