quinta-feira, junho 02, 2022

CNEC 60/32 - 4/10 - Não

 

Não era a primeira vez que escutava aqueles barulhos estranhos.

Vinham do apartamento ao lado. Pareciam-lhe socos abafados. Será que o vizinho batia na mulher? Ele era um indivíduo entroncado, de certeza que devia passar horas no ginásio.

Já ela era bem magrinha. Se calhar tinha tanto medo dele que nem gritava.

Mas a ser assim, seria estranho que ele lhe batesse sem dizer nada. Afinal na cabeça avariada dele haveria alguma razão para bater na mulher. Talvez ciúmes. Será que ela o enganava?

Enquanto pensava no que fazer parou o barulho. Ouviu então que a porta se abria e os passos pesados do vizinho se afastavam na escada. Já não faria sentido chamar a polícia ou faria? Será que a coitada precisava de ajuda? Podia estar estendida no chão, inconsciente, a morrer…

Espreitou pela janela e viu que o vizinho se afastava. Se calhar fugia.

Pé ante pé, abriu a sua porta e bateu na do lado. Ninguém veio abrir. Desceu as escadas e foi até à cabina telefónica em frente. Não ia querer que soubessem quem era para ligar de casa. Felizmente o telefone de lá funcionava. Ligou para o 112, contou que no Apartamento 2 B ocorrera um homicídio e correu de volta para o seu 2 A.

Demoraram imenso tempo a vir, quase dez minutos. Chegaram com as sirenes ligadas, subiram as escadas a correr, ouviu que com força batiam na porta, tanta força que parecia a sua. Ninguém foi abrir, gritaram que iam arrombar a porta e logo depois com grande estrondo uma porta cedia, mas era a sua!

Com todo o barulho apareceu a vizinha de fato de treino agarrada à sua “punching ball”.

Perguntaram-lhe mais tarde se queria ouvir a gravação da chamada para reclamar da falsa denúncia e respondeu logo que não.

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