quinta-feira, maio 19, 2022

CNEC 60/32 - 2/10 Disfarce

 

 

Ele e o Pavlo saíram no fim da tarde. Iam à procura de algo para comer ou ver o que se passava.

Já o tinham feito outras vezes. Tinham cuidado.

Algo que ouviram fez com que procurassem abrigo numa casa destruída. Logo a seguir, a poucos metros, passava por eles um batalhão que reconheceram. Não faziam presos, não deixavam testemunhas.

No início do mês tinham-nos vistos atirar no velho Minsk. Como eles saíra para procurar comida ou ver o que se passava. Era meio surdo. Nem se apercebeu que atrás dele tinham surgido soldados.

Num momento vivo, num momento morto.

Ficou estendido na rua, perto do passeio. Ninguém o foi lá buscar.

De onde estavam escondidos, Pavlo fez com as mãos os gestos de quem tinha uma metralhadora e disparava em direcção aos soldados. A olharem para fora, ele esbarrou em algo que caiu e se partiu. Estavam tão perto que os ouviram e estacaram. Aperceberam‑se que já não seguiam em frente e vinham para ali. Rápido Pavlo correu para os fundos. Não havia porta, saiu a correr.

Ele não reagiu logo. Meio tolhido, viu-os a aproximarem-se. Já não ia dar para fugir. Resolveu subir ao primeiro andar da casa, pelo que restava das escadas. Lá em cima deu com salas esburacadas e lixo, não havia nada onde se pudesse esconder. Entraram. Percebeu que iam subir.

Lembrou-se do velho Minsk, de como caíra. Num momento vivo, no seguinte, morto.

Imitou-lhe a posição de como ficara, calado e imóvel, disfarçou-se de morto.

Subiram. Ouviu-lhe os passos e as vozes.

Voltaram a descer, sem disparar.

O seu disfarce enganara-os.

Esperou algum tempo antes de se levantar e foi procurar o Pavlo.


2 comentários:

  1. Um conto inspirado na guerra atual. Gostei de ler apesar do tema.
    Abraço e saúde

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  2. Tomara que o Pavlo tenha se saído bem como ele....rsrsrs

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