O meu nome é Pavlo.
Tenho onze anos e gosto
de escrever.
Há dias sonhei que não
existia.
Só iria nascer no próximo
ano,
mas no meu país invadido,
o meu pai e a minha mãe não
chegavam a apaixonar-se ou sequer a conhecer-se.
Morriam em cidades
diferentes, em momentos próximos, pouco mais velhos do que sou
agora. Misseis e fogo
inimigo. Nada restou deles, muito menos eu.
Na realidade não foi
assim tão diferente.
Quiseram salvar-me e
mandaram-me para aqui
Cresci pelo que já vivi,
ou sou uma alma velha.
Uma versão diferente de
mim,
não de como deveria ser e
que ninguém vê.
Sou normalmente invisível
e é melhor assim. Quando me notam,
acham-me diferente,
gozam-me quando tropeço nas palavras.
Por isso prefiro ficar
calado,
mas escrevo.
A partir de certa idade
todos somos animais feridos
com espinhos cravados no
ser, pelas dores insuportáveis que vamos juntando.
Se tivesse morrido lá,
Se a pessoa que eu
deveria ter sido, morreu lá,
para não esquecer,
para o não querer morrer,
não se tornar em querer matar,
escrevo.
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