CNEC 58/30 - 8/10 - A Grande Evasão

         

        Dois homens sérios e gordinhos transpiravam a carregar a carrinha branca, estacionada em dupla fila, numa rua movimentada da cidade. Revezavam-se na ida e saída do armazém, carregados com caixas e caixotes de diversos tamanhos. Estes não pareciam pesados, mas volumosos eram.

Com a última remessa surgiu um problema: a porta não trancava. Um deles teve então a ideia de a prender com um cordel e arrancaram.

Nem quinhentos metros andaram e a porta abriu de supetão, fugindo caixas para todos os lados. Travaram a fundo e saíram à sua procura. Trouxeram-nas de volta e algo de milagroso ocorrera. Com a sua saída repentina e embate brusco no chão, os embrulhos revelaram-se mais razoáveis no regresso à carrinha e conseguiram fechar a porta.

Apressaram-se então no seu caminho. Eram ansiosamente esperados para a grande inauguração da Loja “Veste Bem” de roupa para homem em segunda mão.

O gerente quando os viu, só faltou abraçá-los. Ajudaram a única funcionária a guardar a roupa nos cabides e manequins despidos, espalmaram as caixas e caixotes agora vazios, guardaram-nos na carrinha, e foram participar no arranque da loja. Iam ser servidos cálices de vinho do Porto (de 4,99€, adquirido para a celebração no hipermercado), e com tanta agitação tinham ficado com alguma sede.

 Possíveis futuros clientes, curiosos e interessados no vinho, não faltaram.

Na loja havia de tudo para vestir um cavalheiro, fatos, calças, casacos, camisas, até lenços.

Contudo, foi então que alguém se lembrou de pedir, para o fato e camisa que queria experimentar, uma gravata a combinar.

“Cadê” as gravatas? Tinham sido arrumadas num único cabide, não deveria ser difícil descobri-las, mas procuraram-nas em vão.

Nunca vieram a saber que as malvadas tinham aproveitado a súbita abertura da porta para voarem livres para um caixote de lixo onde se esconderam até hoje…