quarta-feira, janeiro 12, 2022

CNEC 58/30 - 6/10 - Marte

 

 

Não pensava que seria assim.

Na aproximação fixei Fobos e Deimos, “medo” e “pânico” a rodearem o planeta vermelho, Marte.

Sei que é menor que a Terra, e com menos gravidade. A temperatura pode cair até menos de 150º negativos, numa atmosfera composta principalmente por dióxido de carbono.

A sobrevivência apenas é possível na estação escavada no solo.

Nos últimos anos fui responsável nesta viagem pelo transporte dos cientistas e operários que aqui irão ficar a viver por mais dez anos.

Felizmente não é o meu caso. Nem terei de ir a Marte antes de iniciar o regresso com a equipe que será substituída. Como na vinda serão colocados num coma leve, em suspensão de vida para não sentirem o tempo e consumirem menos alimentos e oxigénio.

Ficarei de novo só, rodeado das cápsulas de suporte de vida.

Durante anos competi para ser o melhor, passei sucessivamente todas as provas, soube responder correctamente a todas as questões, mesmo as de ordem psicológica. Sabia o que era esperado de mim. Respondi em conformidade.

Todavia, bem lá no fundo, se enganei todos, não me enganei a mim próprio.

A força que aparento esconde a intranquilidade que me devasta.

Envelheço nestas viagens. Fobos e deimos invadem-me.

Apesar disso, não pensava que seria assim.

Olho para o mundo desértico e gelado, à minha frente, Marte.

Não vejo a aventura ou um sentido. Viemos procurar a salvação da Terra e cada vez mais se descobrem evidências quanto a ter sucedido o contrário. A Terra foi a salvação de Marte. Para o homem não há plano B.

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