quinta-feira, janeiro 06, 2022

CNEC 58/30 - 5/10 Vista da janela

 Estava a trabalhar, mas calhou levantar os olhos, olhar pela janela, fixar o que se passava à minha frente. Não sei porque o fiz, não houve uma razão, nenhum barulho anormal ou diferença na luz chamou a minha a atenção. Talvez procurasse descanso ou inspiração.

De onde estava via parte da rua, uma avenida com um separador central, prédios altos e bastante movimento, sobretudo nas horas de ponta quando são muitos a ir para os empregos, a sair para almoçar e a regressar a casa.

Não era hora de ponta.

A meio da tarde, era de dia, o sol ainda não se punha, não era baixo para cegar os condutores. Não chovia. Não havia muito trânsito. Pela proximidade da rotunda, os carros seguiam abaixo da velocidade máxima permitida, talvez a vinte ou a trinta quilómetros.

Vi a garota que descia a rua em passos regulares, pelo passeio, mas longe da berma. Algo do outro lado chamou a sua atenção. Percebi que ia iniciar uma corrida para atravessar obliquamente. Estava longe da passadeira e não olhou sequer. Não viu o carro que no mesmo sentido ia alcançar o sítio por onde decidiu atravessar.

Não lhe podia gritar para que olhasse ou parasse porque tudo se passou em segundos, mas de onde eu estava, o tempo parou quando adivinhei a sua intenção e o que ia suceder.

O condutor não teve hipótese de se desviar ou de parar.

Bateu-lhe.

O corpo leve de jovem foi projectado para a frente e para o lado. Terá sido devolvida ao passeio que queria abandonar. Deixei de a ver. O carro parou.

Juntaram-se pessoas. Também eu procurei saber o que se passava. Alguém chamou a ambulância que a transportou para o hospital com o diagnóstico de uma perna partida.

Não soube mais dela ou do condutor. 

3 comentários:

  1. Ficar sem saber.... oh! agonia que nos persegue por dias seguidfos!!!

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  2. "o carro parou" e assim cumpriu o dever cívico que muitos automobilistas não o fazem: prestar auxilio.
    Beijos e um bom dia

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  3. À boa maneira portuguesa, podia ser pior!

    Abraço

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