quarta-feira, dezembro 15, 2021

CNEC 58/30 - 2/10 Ignorância e Preconceito

 

Mãe que não sabias e inventavas.

Vida dura a nossa, então.

Faltava comida, até o pão.

À nossa beira, alguns iguais

tão ou mais pobres que nós.

Outros, pareciam-nos ricos,

Viviam em casas, em vez de casebres.

Vestiam agasalhos novos e quentes,

Em vez dos remendados e dados

que usávamos e mal nos serviam.

Não lhes faltava comida e calor.

Só por vê-los, sentia mais tudo o que não tinha.

 

O pai bebia, a mãe zangava-se com o que ele gastava no vinho.

Ele batia-lhe, ralhavam-me os dois.

Vida dura a nossa, então.

 

Mas, houve um raro momento em que brilhou o sol.

Encontrei um amigo, por acaso mais pobre que nós.

Quis trazê-lo para casa. Dividiria com ele todo o meu mundo.

 

Mãe Ignorância inventaste:

- É cigano, são diferentes, têm mau-fundo

Pai Preconceito, acrescentaste.

- Ainda vem para aqui roubar (o quê, se nada de valor tínhamos?), na minha casa não entra!

 

Mãe, pai, ele ouviu-os.

Ia perder um amigo.

Logo que pude fugi foi de vós, ignorância e preconceito.


1 comentário:

  1. Feliz de quem tem coragem para fazer isso na vida real. Já como metáfora é o que venho fazendo na vida: fugindo da ignorância e preconceito, cada vez mais!

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