Mãe que não sabias e inventavas.
Vida dura a nossa, então.
Faltava comida, até o pão.
À nossa beira, alguns iguais
tão ou mais pobres que nós.
Outros, pareciam-nos ricos,
Viviam em casas, em vez de casebres.
Vestiam agasalhos novos e quentes,
Em vez dos remendados e dados
que usávamos e mal nos serviam.
Não lhes faltava comida e calor.
Só por vê-los, sentia mais tudo o que não
tinha.
O pai bebia, a mãe zangava-se com o que ele
gastava no vinho.
Ele batia-lhe, ralhavam-me os dois.
Vida dura a nossa, então.
Mas, houve um raro momento em que brilhou o
sol.
Encontrei um amigo, por acaso mais pobre que
nós.
Quis trazê-lo para casa. Dividiria com ele
todo o meu mundo.
Mãe Ignorância inventaste:
- É cigano, são diferentes,
têm mau-fundo
Pai Preconceito,
acrescentaste.
-
Ainda vem para aqui roubar (o quê, se
nada de valor tínhamos?), na minha casa não entra!
Mãe, pai, ele ouviu-os.
Ia perder um amigo.
Logo que pude fugi foi de
vós, ignorância e preconceito.
Feliz de quem tem coragem para fazer isso na vida real. Já como metáfora é o que venho fazendo na vida: fugindo da ignorância e preconceito, cada vez mais!
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