quarta-feira, dezembro 08, 2021

CEC 58/30 - 1/10 - O herói do prédio

        O herói do prédio

 

Carregou no seis e não reparou que o elevador parava no quinto andar.

Saiu e virou à esquerda para o seu apartamento.

Meteu a chave na ranhura estreita, mas esta resistiu-lhe. Teria de lhe pôr óleo ou aparadelas de lápis, não sabia bem o que era mais adequado. Forçou um pouco e conseguiu que a chave girasse e levantasse o trinco.

Empurrou a porta e entrou. O aparador à frente parecia-lhe mais escuro. Pegou no correio por abrir. O carteiro devia ter-se enganado no apartamento. Ia ter de levar as cartas que eram dirigidas à vizinha de baixo.

Sons abafados chamaram a sua atenção. Vinham do quarto do casal e foi para lá que se dirigiu, deparando-se com um cenário terrível. A Ana estava deitada de costas na cama e semi-despida. Em cima dela, um homem tinha as mãos no seu pescoço e estrangulava-a. Gelou, mas reagiu, agarrou um candeeiro esquisito que estava sobre a cómoda e deu com ele na cabeça do homem que caiu para o lado. A mulher à sua frente tossiu e conseguiu levantar-se, mas não era a Ana e sim a vizinha de baixo (a Ana nunca poderá saber que, ainda que só por segundos, as confundiu, a vizinha é mais velha do que ela dez anos e pior, pesará mais cinco quilos).

Devia ter surpreendido a vizinha e o marido (não sabia que ela era casada) num jogo sexual.

Tentou desculpar-se enquanto levantava o homem e conseguia que ele se sentasse numa cadeira e lá ficasse: “mil perdões, entrei na casa errada, mas vou já sair”

A senhora embrulhou-se num roupão, e balbuciou “eu acompanho-o” mas precipitou-se à frente dele para a saída.

E foi assim que Feliciano Joaquim Silva se tornou o herói do prédio ao salvar a vizinha dum perigoso violador homicida.

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