terça-feira, novembro 30, 2021

Texto para tentar participar em Colectânea

 

O que acontece depois

 

 

Não acreditou quando o irmão mais velho lhe disse que era tudo inventado, que eram os pais que traziam as prendas e comiam as bolachas e bebiam o leite que era para o Pai Natal.

Naquele ano resolveu preparar-se. Sem ninguém perceber aproveitou para dormir mesmo a sesta juntamente com a irmã bebé. E como ela dormia, parecia que passava o tempo todo a dormir, com breve intervalos para chorar e pedir biberão. Depois esforçou‑se por continuar calmo e disfarçar, para ninguém desconfiar do seu plano.

Foi para a cama quando lhe disseram, mas quando se apercebeu pelo silêncio na casa que também os pais se tinham ido deitar e que não faltaria muito para a meia-noite, afastou os cobertores para que o frio o ajudasse a manter-se acordado.

A cama parecia tão macia e quente que lhe custou imenso, mas conseguiu levantar‑se. Calçou as pantufas e pé ante pé, dirigiu-se à sala.

A árvore de Natal piscava com as luzinhas ainda acesas. Reparou então em choque que apesar de ainda não ser meia noite já as prendas embrulhadas em papéis coloridos rodeavam a árvore e que o leite e as bolachinhas tinham desaparecido.

Nem pensou em procurar e chocalhar os embrulhos que tinham o seu nome, como antes gostava de fazer.

Será que o irmão estava certo?

Teria sido tudo feito pelos pais?

Será que o Pai Natal não existia?

Foi então que ouviu um barulho. Algo volumoso escorregava pela chaminé. Escondeu-se atrás de um sofá e esperou.

Não estava mais sozinho. Alguém entrara na sala pela chaminé. Espreitou e viu-o. Era o Pai Natal, só podia. De roupa vermelha e barba branca e com um saco de presentes, mas a olhar desanimado para a árvore. Comentou baixinho, “vou ter de levar comigo o que trazia, bem podiam avisar antes…e nem há bolachas e leite, de novo!”

Viu-o encaminhar-se para a chaminé e seguiu-o. Aproveitou o momento em que ele começou a subir, como que aspirado pelo ar frio de lá de fora, para se agarrar a uma ponta do saco e subiu também.

Ao lado do telhado esperavam as renas atreladas ao trenó.

Sem que o Pai Natal reparasse, escondeu-se atrás de outros sacos. Duas das renas viram-no, mas não disseram nada

O trenó elevou-se no ar e voltou a pousar no telhado da casa ao lado. Manteve-se escondido enquanto o Pai Natal se ausentava e isto repetiu-se várias vezes. Só de algumas regressava o Pai Natal com o saco vazio e apenas numa casa pôde provar uma bolachinha como comentou com as renas. Não sentia frio, mas começava a estar cansado de tantas paragens e foi então que o Pai Natal o descobriu: “mas o que temos aqui? Já passou há muito a tua hora de dormir, deves estar cheio de sono…” Ouvir o Pai Natal dizê-lo, fez com que sentisse mais sono, e sem querer, adormeceu.

 

Quando despertou estava na sua cama e já era de manhã.

O Pai Natal teve de voltar atrás para o deixar ali, e ainda bem que sabia ou adivinhou qual era a sua casa e a sua cama.

 Era dia de Natal e de abrir as prendas e iria guardar o segredo daquela noite, mesmo que o irmão voltasse a dizer que o Pai Natal não existia.

 

 

3 comentários:

  1. Muito bom este pequeno conto sobre o Pai Natal.
    Cada vez gosto mais da sua escrita.
    Abraço e saúde

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  2. Comentei e não ficou.
    Adorei o sonho e o texto.
    Beijinho

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  3. Uma pérola e lindíssimo.
    Beijos e um bom dia

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