quinta-feira, novembro 04, 2021

CNEC 57/29 - 10/8 - O pedido de desculpas

 

Segunda-feira cinzenta e de chuva com o trânsito em pára-arranca. Pedro via cada vez mais como certo que chegaria novamente atrasado ao trabalho. Não servira de nada ter acordado e saído mais cedo.

Foi o desespero e a pressa que o levaram a tentar um atalho. Foi buzinado na saída repentina da fila para descobrir mais à frente que obras impediam o acesso à direita. Deu o pisca para regressar à esquerda e deparou com rostos fechados e fila cerrada. Parecia uma guerra. Apanhou um condutor mais distraído para enfiar a frente do seu carro e vê‑o a acelerar para lhe impedir a entrada até travar bruscamente.

Ficaram num impasse, nem ele tinha ângulo para virar, nem o outro conseguia passar, o que não o impediu de buzinar zangado. Ele é que não ia recuar. Entre-dentes proferiu uma frase menos simpática na qual mencionava a mãe do buzinador, que sem duvida terá feito o mesmo. Saíram dos veículos e repetiram os insultos, cresceram um para o outro, e o cobarde deu-lhe um murro e deixou-o estendido. Apanhou-o de surpresa ou ele escorregou no piso molhado, o que foi uma sorte, a não ser assim, teria respondido, e se não houvesse alguém que o agarrasse, ia desfazê-lo. Com ele ninguém brincava.

O cobarde deve tê-lo pressentido porque enfiou-se logo no carro e aproveitou uma aberta para o contornar e seguir.

No entanto, o tráfego tão entupido, deu-lhe tempo a ele para se levantar e fotografá‑lo, primeiro o carro dele, e depois pela janela o condutor, agarrado ao volante.

 

Meses depois, ali estavam todos para o julgamento.

Ouviram primeiro o outro, o arguido, até ele entrar, meio nervoso pelo espaço estranho.

 

Então, o “arguido”, mais nervoso do que ele, pediu-lhe desculpa.

 

Olhou para ele e viu-o, como igual.

E desistiu do processo.

5 comentários:

  1. No trânsito como noutras áreas todos os comportamentos humanos são idênticos. Na condução quem nunca pecou que atire a 1ª pedra.
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    Saudações poéticas
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  2. Tão bem escrito e contado...Acontece muito e adorei o final, que infelizmente, nem sempre é esse! beijos, chica

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  3. Penso que seria impensável com duas mulheres!

    Abraço

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  4. Que bem relatado o "pão-nosso-de-cada-dia" de quem anda na estrada e seria muito bom que todos e todas se "vissem como igual!
    Beijocas e um bom dia

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  5. Fez as contas e viu que dava menos trabalho pedir desculpas....rsrsrs

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