quarta-feira, outubro 06, 2021

Post 8233 - CNEC 57/29 - 4/10 Catarina

 

Catarina repetiu:

- Saia na saída!

Tinha quase a certeza que ela estava enganada. Já não vinha para aquelas bandas há anos, mas juraria que a saída era mais à frente.

Resolveu arriscar e continuou.

Catarina ficou calada por instantes, talvez baralhada por aquela desobediência imprevista. No entanto, rapidamente terá reformulado o que estava a pensar, ordenando:

- Faça inversão de marcha!

Ele continuou.

- Contorne a rotunda e saia na quinta.

Ele saiu na segunda.

Catarina ficou calada. Estranhamente não insistiu. Algo se passaria. Olhou para o visor. No ecrã, o pequeno carro cinzento que o representava tinha deixado a estrada e seguia agora pelo campo.

Olhou em redor, a estrada parecia nova.

Tinha-se enganado no caminho e a Catarina não podia ou não queria mais ajudá‑lo. Desligou-a.

Estava sozinho.

Definitivamente aquela era uma estrada nova, o alcatrão reluzia, nas bermas ainda não cresciam ervas e as árvores poupadas no desenho a régua, mantinham a distância regulamentar de três metros.

Pareceu-lhe tudo muito monótono.

A condução e a paisagem deram-lhe sono.

Resolveu ligar novamente o aparelho.

Regressou a imagem. O carrinho cinzento continuava a atravessar o campo. Descobriu que seguia em paralelo com a estrada antiga, aquela pela qual queria ter tido. A Catarina mantinha-se em silêncio. Devia ter amuado. A certa altura aquilo começou a chateá-lo. Parou na berma e decidiu procurar a voz masculina que substituiria a Catarina. Não se apercebeu do camião que vinha atrás com um condutor distraído a enviar mensagens, até se dar o embate.

Ele não sofreu nada, só o choque. Quando chegaram os socorristas ouviram-no a culpar a Catarina por ter ido pelo caminho errado, tinha-o chateado a querer ter sempre razão. Um deles pensou em ir procura-la até o colega lhe dizer quem era, ou melhor, o que era a Catarina.

 

4 comentários:

  1. Muito boa essa estória. A gente acaba falando com as máquinas e sentindo como se elas pudessem nos aborrecer....acontece comigo também kkkkk

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  2. Se falasse inglês diria que era a nossa amiga canadiana :)))

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  3. Às vezes, a Catarina engana-se, mas aqui não parece ter sido o caso. Só que arranjar um bode expiatório dá jeito e está mais à mão.
    Um beijinho, Gábi, e um dia com outras boas histórias.

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  4. Essa do camionista usar o telemóvel também é real e vejo muitos a fazê-lo. Quanto à Catarina GPS fez-me rir e ele só entendeu quando o colega lhe explicou.
    Muito bom e eu nunca usei essa ferramenta, mas quando vou no carro com os meus quase que adormeço mas felizmente vou de pendura:)))
    Gostei imenso.
    Beijocas e um bom dia

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