quinta-feira, outubro 28, 2021

CNEC 57/29 - 7/10 - Abaixo o amor!

 Como se pode definir a dor?

Está sempre presente e vem em vagas, submerge-me, invade-me, não consigo pensar, só sinto, dilacera-me, afunda-me, não me deixa sequer a esperança de que possa cessar.

Para funcionar tento empurrá-la para segundo plano. Acordo, tomo duche, vou trabalhar, almoço, volto a trabalhar, regresso a casa. Durante o dia converso com os outros, rio. Acho que ninguém se apercebe, ninguém sabe.

Mal fecho a porta de casa, a dor volta.

Seria diferente se mudasse de casa?

Aqui tudo me recorda o que perdi e a dor que veio para ficar.

Não pedi isto, não pedi para amar, ninguém me disse que seria assim.

Se me tivessem dado a escolher, sei o que diria. Não quereria amar, não quereria pagar o preço.

Abaixo o amor se depois o que fica é isto.

Não vivo, não sinto senão dor.

Alguém disse que o preço do amor é este, a dor que depois fica. Não quero pagar este preço. Nem de propósito as duas palavras terminam com as mesmas duas letras.

Abaixo o amor se depois é isto.

Se ao menos não houvesse o depois. Mas ele veio e a dor agora é parte de mim.

Não vivo, sobrevivo.

Se pudesse ter escolhido, se pudesse voltar ao antes, se soubesse o que sei hoje.

Enquanto me rasga a dor e me apago só me resta esta raiva para o declarar:

Abaixo o amor!

Se depois é isto que fica…

2 comentários:

  1. O preço é muito alto. Mas será que se houver uma próxima vida, também não teremos o poder de escolher entre amar e pagar com a dor ou viver como um psicopata?

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  2. O Desafio era escrevermos uma Declaração contra o amor e foi o que me ocorreu, mas se fosse eu a personagem do texto, mesmo não querendo a dor, ainda quereria menos o vazio de nunca ter tido amor, talvez sejam apenas dores diferentes. E não quereria de todo ser uma psicopata, não quereria abdicar nunca de sentir, acho (que não venham por aí dores ainda maiores)

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