Como se pode definir a dor?
Está sempre presente e vem em vagas, submerge-me,
invade-me, não consigo pensar, só sinto, dilacera-me, afunda-me, não me deixa
sequer a esperança de que possa cessar.
Para funcionar tento empurrá-la para segundo plano.
Acordo, tomo duche, vou trabalhar, almoço, volto a trabalhar, regresso a casa.
Durante o dia converso com os outros, rio. Acho que ninguém se apercebe, ninguém
sabe.
Mal fecho a porta de casa, a dor volta.
Seria diferente se mudasse de casa?
Aqui tudo me recorda o que perdi e a dor que veio para
ficar.
Não pedi isto, não pedi para amar, ninguém me disse
que seria assim.
Se me tivessem dado a escolher, sei o que diria. Não
quereria amar, não quereria pagar o preço.
Abaixo o amor se depois o que fica é isto.
Não vivo, não sinto senão dor.
Alguém disse que o preço do amor é este, a dor que
depois fica. Não quero pagar este preço. Nem de propósito as duas palavras
terminam com as mesmas duas letras.
Abaixo o amor se depois é isto.
Se ao menos não houvesse o depois. Mas ele veio e a
dor agora é parte de mim.
Não vivo, sobrevivo.
Se pudesse ter escolhido, se pudesse voltar ao antes,
se soubesse o que sei hoje.
Enquanto me rasga a dor e me apago só me resta esta
raiva para o declarar:
Abaixo o amor!
Se depois é isto que fica…
O preço é muito alto. Mas será que se houver uma próxima vida, também não teremos o poder de escolher entre amar e pagar com a dor ou viver como um psicopata?
ResponderEliminarO Desafio era escrevermos uma Declaração contra o amor e foi o que me ocorreu, mas se fosse eu a personagem do texto, mesmo não querendo a dor, ainda quereria menos o vazio de nunca ter tido amor, talvez sejam apenas dores diferentes. E não quereria de todo ser uma psicopata, não quereria abdicar nunca de sentir, acho (que não venham por aí dores ainda maiores)
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