quarta-feira, junho 23, 2021

Post 8114 - CNEC 55/27 - 4/10 - Passa a bola!

 Passa a bola, passa a bola!

O Rui chutou para ele e conseguiu evitar o corte do Pinheiro. Hesitou por segundos se tentava o golo dali. A baliza marcada por duas latas vazias parecia-lhe pequena e distante. Decidiu avançar, mas nessa altura o Peixe surgiu-lhe na frente com força, lance cruzado, a bola saiu disparada, no sentido errado:

- Crash!

Rápida e decidida, como se fosse telecomandada ou tivesse mente própria, desviou-se para a janela do vizinho, partiu o vidro e entrou…

- Tu és burro mesmo! Lançou o Cristiano.

Ia responder-lhe e defender-se, mas percebeu que ele falava para o Peixe.

E agora?

Na casa não morava ninguém. Pelo menos assim não vinha ninguém ralhar com eles.

Mas só tinham aquela bola.

Juntaram-se à volta do muro, seis miúdos esfarrapados, a olharem decepcionados para a janela partida.

Não parecia longe, ficava no r/c. Até lá arbustos e silvas.

Ele e o Sérgio avançaram. Pularam o muro. Havia um tronco onde se equilibraram e espreitaram lá para dentro. Não se via nada.

Sentindo-se responsável pelo sucedido, tomou a iniciativa:

- Vou entrar!

- Espera, há vidros partidos. Ordenou-lhe o Sérgio que com uma pedra os afastou. Deu-lhe um apoio, e ele pulou para dentro.

Estava escuro, ar quente, bolorento e pesado, pó e teias de aranha cresciam por ele acima.

Com os pés procurou reconhecer o espaço, não fosse haver algum buraco. Sentiu algo mole, um pano velho ou um rato morto? Que seja um pano velho!

Queria ir embora, mas não podia dar parte de fraco.

Bateu em algo que rolou. A bola!

Baixou-se e encontrou-a.

Regressou em triunfo, atirando-a primeiro.

Lá fora descobriram que não era a mesma, mas ninguém se voluntariou para voltar à casa.

Continuaram a jogar com a nova bola e ele marcou um golo.

3 comentários:

  1. Era o quintal do Arménio na minha juventude.
    Tanta bola por lá ficou!!
    Beijinho

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  2. Como nasci e vivi até aos 11 anos numa casinha isolada no campo, tive largo espaço para jogar à bola. Nunca parti vidro nenhum porque, penso eu, não ter vizinhos. Caso os tivesse era certinho e direitinho que isso acontecia, lol
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    Cumprimentos poéticos
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  3. Ainda há meninos esfarrapados a jogar à bola?
    Seja como for uma bela história muito atual, com golo e tudo!

    Abraço

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