quarta-feira, junho 09, 2021

Post 8099 - CNEC 55/27 - 2/10, Eu, bola

 Eu, bola

 

Nasci numa fábrica quente onde cheirava a borracha. Fui-me apercebendo do meu tamanho comparando-me a outros colegas que por lá surgiam. Tristemente constatei que tinha saído bem pequena, e sem esperança de crescer, mas colorida.

Então, se me tivessem dado a escolher, queria ter sido maior.

Soube das bolas de futebol, estrelas imprescindíveis nos jogos. Imaginei a glória de estar num campeonato do mundo. Correria pela relva, livre e esplendorosa, com a atenção de todos presa a mim.

Isso era o que pensava até ver com mais atenção alguns jogos na televisão. Aquilo parecia uma tourada ou tortura. Devia ser proibido!

As coitadas eram perseguidas e pontapeadas pelos jogadores das duas equipes! Só a equipe dos árbitros é que as deixavam em paz, mas também não paravam a “bolificina” (de carnificina para bolas), limitavam-se a assistir.

Se pudesse teria chorado.

Tive esperança que me esperasse um bebe, uma criança bem pequena. Iriamos brincar os dois, eu poderia ensinar-lhe tanto sobre o movimento…

Ao invés deram-me a um gato. No princípio, pareceu-me fofinho até que me apercebi das suas unhas ou garras. Estava perdida!

Mal me puseram a rolar tentei escapar-lhe, esconder-me entre as pernas dos móveis, ou por baixo do sofá, rolar o mais depressa que conseguia para longe. Tudo em vão. Rápido e veloz, ele encontrava-me logo, prendia-me com as patas por segundos e soltava-me, recomeçando a minha fuga e captura. Estava a ser poupada das garras, mas até quando?

Adivinhava um futuro sombrio, mas fui salva pela Chinesinha do vizinho – uma gata branca e nobre, nada interessada em bolas. O Teco (o “meu” gato) apaixonou-se e largou-me de mão, ou melhor, de pata.

Estou é a ficar um pouco preocupada por a Chinesinha estar mais redonda e escutar conversas sobre um futuro Tico que aí vem…

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