quinta-feira, maio 06, 2021

CNEC 54/26 - 7/10 - A suspeita

  

Primeiro foi com a comida.

Pareceu-lhe que o ensopado tinha um gosto estranho. E ela não se sentou a comer com ele. Disse que estava de dieta.

Ficou um pouco indisposto, mas podia apenas ter-lhe assentado mal.

Reparou então como ela andava a arranjar-se melhor e se atrasava nas compras.

Mau, mau. Haverá gato na costa?

Resolveu iniciar também uma dieta, mas especial. Em casa só fruta e água. Andava esfomeado e aproveitava todos os almoços de trabalho após confinamento para se vingar e comer tudo o que lhe aparecesse pela frente. Passou até pela situação caricata de preterir a oferta da nova e atraente colega “se não podia ajudá-la na hora do almoço, que tinha um processo complicado”. À partida ele não era de enganar a mulher e depois era dia de feijoada.

Ela ficou aborrecida, não lhe voltou a pedir ajuda. Ostensivamente voltou-se para o colega deles, Carlos.  Que lhe fizesse bom proveito. Quanto a ele só tinha olhos para a sua Ana e para os almoços na Cantina.

Voltando à Ana, não sabia o que fazer.

Continuou atento aos seus cozinhados, dietas, vestimentas e atrasos.

Até que não aguentou. Tinha de descobrir o que se passava.

Vou segui-la. Vai ter de ser.

Na sexta-seguinte deixou que ela saísse primeiro e minutos depois, após se ter disfarçado com uma gabardine velha (e um pouco bolorenta) e de boné começou a segui-la, de longe.

Alguns transeuntes com quem se cruzou olharam-no de lado. Convinha ter cuidado. Ainda o tomavam por tarado e chamavam a polícia.

Com o coração aos pulos apercebeu-se que ela não seguia para o Shopping. Mas não ia fazer compras e lanchar com as amigas?

Apertou o certo e viu-a entrar numa casa baixinha.

Esperou e aproximou-se.

Percebeu tudo então, o letreiro anunciava “Escola de Culinária.”

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