quinta-feira, abril 22, 2021

1º Campeonato Intensivo de Escrita Criativa

 

Nunca mais é Sábado

 

Traduziria bem o meu estado de espírito a frase “Nunca mais é Sábado”.

Hoje é Domingo, final do dia.

O meu nome é Eva, o da primeira mulher.

O Rui foi deitar o Bernardo, e amanhã será ele a arranjá-lo.

Amanhã, apesar de tudo, estarei melhor. Hoje vejo tudo cinzento. Não percebo onde falhei, porque é que não sou feliz. Sou bonita e atraente – não são conceitos vazios, é assim que me vejo, é assim que sei que me veem. Tenho um bom emprego, um marido, o Rui, também atraente – ficamos bem os dois nas fotografias ou vídeos, uma boa casa, um filho de cinco anos, temos saúde, o apoio da família e amigos. Mas, no Domingo à noite, sinto-me sufocada, só me ocorre pensar onde é que errei?

Não amo o Rui, acho que nunca o amei. Damo-nos bem. Ele diz que me ama, talvez seja verdade, mas eu também lhe respondo o mesmo. Sinto prazer com ele, mas já não há paixão. O conhecimento e a rotina, acabaram com o mistério. Não tenho grande instinto maternal. Foi mais por insistência do Rui e do mundo à nossa volta que avancei para a gravidez. Gosto do miúdo, gosto que esteja bem, gosto que quando faz alguma gracinha digam que se parece comigo, mas não tenho grande instinto maternal. Em casa isto está bem assente, são mais as avós, a empregada, e o Rui que tomam conta dele. Tenho amigas que me invejam e copiam. Sábado à noite é a minha noite para sair. O Rui pensa que é para sair com elas, e às vezes, até é. Para tornar a minha vida mais interessante e sem que o Rui o saiba, de vez em quando arranjo um amante. Tem de ser alguém casado e com filhos, que também só queira uma aventura. Terminei com o último porque estava a ficar muito agarrado. Chegou a falar em deixar a mulher. Tive de lhe dar a volta e pôr um fim naquilo. Penso arranjar outro. Tenho de arranjar outro. Talvez o Bruno da empresa. Por um lado, está demasiado próximo, mas por outro lado, no outro dia conheci a mulher dele. Absolutamente apagada e feia. Mas ele parece ligado à família, sobretudo aos filhos. No próximo Sábado talvez dê para ficarmos os dois sozinhos pela empresa e será fácil. Estou a precisar de algo assim.

 


Título do Livro – Nunca mais é Sábado ou Sábado, um de nós vai morrer

 

I Capítulo Nunca mais é Sábado


O livro terá sete capítulos, os seis primeiros serão dedicados a cada um dos seis personagens, Eva, Lídia, Óscar, Bruno, Rui e Pedro, e irão correspondendo aos dias de semana, começando pelo Domingo. No último capítulo, finalmente o Sábado, sabemos quem morre, porquê e como.

Eva, Domingo

Lídia, Segunda-feira, assinou a declaração de consentimento para uma cirurgia no Sábado;

Óscar, Terça-feira. Foi condenado por perseguição e tentativa de violação acredita que a Eva lhe dá sinais de se interessar por ele

Bruno, o marido de Lídia, Quarta-feira. No Sábado ao sair do Hospital não repara num carro que vem na sua direcção.

Rui, o marido de Eva, Quinta-feira. Descobre que está a ser enganado e prepara-se para a surpreender com o amante no Sábado.

Pedro, tirou a carta na Sexta-feira e sai com o carro do pai no Sábado

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