Poderia defini-la a
gargalhada histérica no meio da sala de aula. Vítima de bullying quando ainda
ninguém o chamava assim, fora a resposta que encontrara e que mais a isolara.
Cresceu nervosa e
solitária.
Depois tudo pareceu
acontecer ao mesmo tempo.
Ficou de barriga e o
companheiro deixou-a. Os pais decepcionados acolheram-na, mas morreram os dois
com um intervalo de poucos meses, antes ainda do menino nascer.
Acreditou que fora a
amargura e a vergonha que os levara.
Tinha problemas no
trabalho que receava perder. O patrão não compreendia as faltas e já a olhava
de lado pela licença. Não se impunha perante as colegas que inventavam
histórias.
Passava pela ama,
pegava no menino e chegava a casa tão cansada que só queria dormir.
Num Domingo foi para
o quarto de tarde. O Pedro tinha cinco anos na altura. Deixou-o na sala com a
televisão ligada.
Doía-lhe o corpo e
pesava-lhe a cabeça. Pensava que não podia ficar agora doente ou ainda perdia o
emprego. Calhou olhar para os comprimidos que tomava para dormir.
Há horas negras na
vida de todos e aquela, pensou depois, foi a pior de todas.
Viu-se com uma má
mãe. Nem conseguia brincar com o Pedro. Com ela iria crescer um menino triste,
só lhe podia deixar em herança a má sorte que sempre a acompanhava. Ficaria
melhor sem ela.
Chegou a pegar num
copo e no primeiro comprimido.
Foi então que o ouviu
rir. A gargalhada feliz de uma criança com as palermices de um desenho animado.
Ganhou consciência do
que ia fazer ao filho e mandou o copo ao chão.
Depois não ficou tudo
bem, mas pouco a pouco conseguiu mudar, encontrar em si mais forças.
Sabia que não estava
sozinha e que às vezes poderia brincar e rir com o seu menino.
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