Roda que
roda, cabelo de bruxa, volta para o inferno de onde saíste.
Roda que
roda, ninguém te quer, a tua mãe morreu, o teu pai nunca viste.
Enfezada e triste, criada pelos avós amargurados com o
abandono e morte da filha.
A mãe, menina bonita na fotografia da comunhão,
perdeu-se de amores por um desconhecido.
Saía de noite quando todos dormiam e regressava pouco
antes da luz do dia.
Uma madrugada chegou mais tarde com marcas de silvas,
a roupa rasgada, fria, calada.
Não voltou a sair, deixou de falar, não respondia
sobre o que tinha. O que sucedera, ninguém sabia. Deixou de sangrar e
cresceu-lhe a barriga. Os pais queriam esconder o seu estado, mandaram-na embora
para a casa distante de uma tia.
Na noite em que nasceu a filha, quando ninguém estava
a ver, nem o esperava, voltou a sair, mas deixou a menina.
Dois dias a procuraram até que a encontraram no fundo
do poço.
Cresceu sem carinho e com a troça de outros meninos.
Roda que
roda, cabelo de bruxa, volta para o inferno de onde saíste.
Roda que
roda, ninguém te quer, a tua mãe morreu, o teu pai nunca viste.
Assim que pôde mudou-se e reinventou-se.
Voltou à vila pela morte do avô. Ninguém a reconhecia,
nem a avó, já com noventa anos, com alzheimer ou demência. Iria para um lar,
mas nessa noite ficaram as duas na casa para o velório.
Pensava que a avó dormia quando de repente abriu os
olhos e a chamou pelo nome da mãe:
“Bela tens de o largar que é casado.”
Afinal a avó sabia.
Quem?
Não respondeu, voltou à habitual letargia.
Nem que me mate vou descobrir. Levou a avó com ela
para a cidade, tratando dela com todo o cuidado até que conseguiu saber…
Bendita imaginação!
ResponderEliminarBeijinho