O papa
queria a sua caneta.
Não me
lembrava bem de como era, nem sabia onde estava.
Procurei-a
nos lugares mais prováveis: as gavetas da secretária na sala e da cómoda no
quarto. Não a encontrei.
Fui buscar
uma minha nova que nunca tinha usado. Fora-me oferecida por uma amiga porque
sim ou por colegas num aniversário.
Não a quis.
A dele
escrevia muito bem. Muito melhor do que aquela que lhe trouxe e não quis sequer
experimentar.
A dele acompanhou-o
nos anos em que trabalhou como médico veterinário, mais de quarenta anos, para escrever
e assinar receitas. Tê-la-á usado também nos contratos para compra de carro e
da casa e na emissão de cheques – o meu pai não queria cartões. Tinha uma letra
muito bonita, quando escrevia ou quando assinava o seu nome: Alcino Do Fundo
Lopes.
Quando
éramos crianças ainda não havia telemóveis e aprendemos a atender e a anotar as
chamadas. Tínhamos de ficar com o nome e o número de telefone e uma ideia do
que era preciso, como “tirar as secundinas” - algo relacionado com um parto
complicado de uma vaca. Às vezes íamos com ele. Metia o carro por estradas
secundárias ou caminhos de terra até
chegar onde era preciso. Vinha ter com ele o lavrador ou criador. Quando havia
cães a ladrar eu tinha medo e preferia ficar no carro, mas cheguei a brincar
com os filhos quando estavam por lá.
Disse-lhe
que o ajudaria a encontrar a caneta no dia seguinte. Não o fiz. Porque me esqueci
ou tinha algo muito importante a fazer.
Dias depois
o meu pai morreu.
Se agora
encontrar a caneta acho que vou chorar.
Queria ter
sido melhor e queria ter-lhe mostrado muito mais como gosto tanto dele.
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