O que faço?
O quarto de hotel tem uma
varanda com vista para o mar. Quando cheguei, logo na recepção, ao
entregarem-me o cartão-chave, louvaram aquela vista, “um dos nossos melhores
quartos”. Só depositei lá a mala e saí para jantar.
Quando regressei tinha
anoitecido. Abri a porta e saí para a varanda. Estava já demasiado escuro para
ver alguma coisa. Na brisa acho que cheirei a maresia e ouvi gaivotas.
Pensava retornar ao ar
condicionado do interior quando ouvi gritos.
- É sempre a mesma coisa
Não te posso levar a lado nenhum que te vestes como uma puta.
Uma voz fininha retorquiu
algo.
- O quê? Tu cala-te mas é
caladinha, não me faças perder a paciência.
Ela terá respondido algo,
porque logo a seguir o barulho pareceu de bofetadas e seguiram-se gritos – “puta”
e “ai que me matas”.
O que faço?
Grito também – “O que se
passa aí? Vou chamar a polícia!”
Calaram-se os dois.
Será que devia chamar
mesmo a polícia? E de onde vinham as vozes e sons? Do quarto ao lado como me
pareceu primeiro, ou do de baixo, ou do de cima?
Resolvo espreitar à
volta. Nada. Nem luzes, nem vozes. Os quartos parecem estar todos vazios. Não há
estrelas no céu.
Quedo-me em silêncio, até
resolver ir deitar-me. Custa-me adormecer e quando o consigo é meio em
sobressalto. Estranho a cama e o ar condicionado do quarto.
Mal desperto de
madrugada, recordo o incidente da noite anterior. Além dos sons de chuveiros e de vozes abafadas,
tudo parece tranquilo.
Ao pequeno almoço tento
em vão reconhecer os intervenientes.
Volto ao quarto para ir
buscar a mala, e vou à varanda. Estamos rodeados por prédios e nessa altura reparo
que de lá, por entre os edifícios, apenas se vê uma nesga de mar.
Essa imaginação não conhece limites.
ResponderEliminarBeijinho
Obrigada Pedro :)
Eliminarum beijinho
Pois, o que fazer perante tais situações...
ResponderEliminarA violência doméstica exige que se intervenha, se não for diretamente, através da polícia.
Gostei muito do texto/conto. Muito criativo e bem escrito.
Gábi, continuação de boa semana.
Beijo.
Muito obrigada Jaime Portela :)
Eliminarbom fim-de-semana
e um beijinho
Não seria alguém, solitário, a fazer "amor" a... duas vozes?
ResponderEliminar.
Tenha um dia feliz
Cumprimentos poéticos
Isso é que é imaginação "Ryk@rdo" :)
Eliminarobrigada, um dia feliz também
e um beijinho
Entrar num hotel à noite traz destes imprevistos.
ResponderEliminarQuanto a vozes também já as ouvi mas não tão nítidas!
Um belo pedaço de escrita!
Abraço
Lembrei-me agora de uma das minhas irmãs ter contado como numa noite num hotel em férias não conseguia dormir porque ao lado discutia um casal, mas sem agressões
EliminarObrigada Rosa dos Ventos :)
um abraço
Em resumo, não temos sossego em canto algum. E às vezes ainda pagamos por isso...
ResponderEliminarBeijinhos.
Aqui o meu personagem ficou bem preocupado :)
Eliminarum beijinho
Pode ser que o aviso tenha ajudado a cada um encontrar e deixar encontrar uma 'nesga de mar'
ResponderEliminarUm beijinho
Dolores
Muito bom!
ResponderEliminar