Post 7433 - CNEC 20/48 - 5/10 - Num armazém

Não viu uma luz para a qual caminhasse.

Não sentiu o cheiro da sua carne queimada e apodrecida.

Não sentiu o calor abrasador dos verões, nem o frio gelado dos Invernos.

Quedava ali à espera não sabia de quê, talvez de saber como e porquê.

Quiçá nessa altura visse a tal da luz.

O Inspector foi chamado ao local ao meio do dia. No caminho o agente local deu‑lhe conta do que sabiam.

O armazém abandonado tornara-se um chamariz para os miúdos que o diziam assombrado.

Um deles subira ao telhado e caíra por entre as telhas apodrecidas.

Tinham tido de rebentar com a fechadura para lá entrarem. O miúdo estava bem, mas tinham encontrado um corpo carbonizado.

Lá dentro a escuridão e o pó meio que o sufocaram. Era um cadáver humano, um homem ou uma mulher, nem se percebia. Não tinha sido queimado ali, ao seu redor, madeira velha e retalhos de tecido não tinham quaisquer marcas de fogo.

“Primeiro temos de saber quem era. Talvez pelos dentes. Podem levá-lo.”

Tinham um homicídio para investigar.

Mais tarde saberiam que era um homem, identificá-lo-iam como o antigo dono do armazém, aquele que segundo a mulher a deixara por outra em França, há mais de dez anos. Chocara a vila que logo a seguir a ser abandonada, também ela se juntasse a outro.

Requereram a conseguiram a intercepção e gravação das comunicações telefónicas e apanharam o casal numa conversa incriminadora. Confrontada com a descoberta do corpo ela não perdera tempo em zangar-se com o novo marido por não ter enterrado o antigo.

Foram presos.

O armazém continuou assombrado.

Fez-se o funeral com dez anos de atraso, na lápide o seu nome.

E terá finalmente visto a luz para o seu eterno repouso.