quinta-feira, março 19, 2020

Post 7379 - CNEC 19/47 - 1/10 - Texto-sonho



Quando eu tinha onze anos morreu a minha avó. A avó que estava a morar connosco, que me deu a minha boneca favorita, a Joaninha, que nos contava histórias, dava-nos a sopa, fez-nos cafuné nas sestas, tinha mais tempo e paciência para nós, dava os melhores chi-corações do mundo.
Os dias a seguir foram estranhos. Vi a nossa mãe tão triste. Fui percebendo o que a morte implicava, não podermos mais estar com a nossa avó, e a ideia que acontecia connosco. À mesa passámos a ser cinco em vez de seis. Mas para onde tinha ido? Para onde é que vamos? Será o fim? Pode existir algo sem ter sido criado, como o Universo e o que é o fim?
Comecei a ter sonhos com ela. Num dos sonhos, era-me dito, a mim que sentia saudades do seu abraço, que no mundo inteiro existem duas pessoas capazes de dar o mesmo abraço. Se a minha avó tinha desaparecido eu podia ir à procura da pessoa que daria um abraço igual.
Uma ideia estranha, porque mesmo que o abraço fosse igual não seria ela, mas ajudou-me, talvez por implicar que não perdera tudo, algo ficara, como a recordação para reconhecer a semelhança de um abraço.
. Continuo a querer guardar seja o que for que possa ter restado, e segurar momentos, por isso também comecei vários Diários.
Um consolo pequenino, como um abraço parecido, e uma razão para escrever.

14 comentários:

  1. Eu é mais com o avô paterno, o gajo mais porreiro que eu conheci.
    Morreu no dia 26 de Abril de 1974
    Bjs

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  2. A morte aos 11 anos é vista como uma coisa muito estranha, misteriosa.
    Continuação de boa semana, Gabi.
    Beijo.

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    1. Continua a sê-lo depois
      obrigada, continuação de uma boa semana também
      e um beijinho

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  3. Bom dia:- Em cada idade se entende a morte de maneira diferente. Para que tem 11 anos não é fácil entender a partida de alguém que se ama, como é o caso dos avós.

    Cada idade uma forma de receber e sentir. Mas em todas as idades a dor é enorme quando se perde que se ama
    .
    Votos de um dia de paz e amor

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  4. Um sonho é sempre uma razão para escrever.
    Um sonho daqueles a dormir, para que não nos fuja por entre os dedos.
    E um sonho bem acordado para que se organize e se estruture em algo mais concreto.
    As saudades são outra boa razão para escrever.
    As pessoas que amamos outra.
    ...e as dores... tanto podemos elaborar pela escrita.
    Ou seja... o que não nos falta são razões para escrever!

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    1. Estou curiosa sobre o que terá inspirado para a escrita este tema

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  5. Minha avó materna e meu avô paterno foram os grandes amores que tive na vida. Até hoje tenho-os no fundo do coração e deixaram lembranças tão fortes que me vejo repetindo frases e atitudes que eram próprias deles.
    Gabi, se sonhou com sua avó é uma forma de sentir que ela ainda se comunica consigo. Trazê-la na lembrança é o fio invisivel que as une . Não perca o contato.
    Beijinhos.

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  6. Existem lembranças (coisas passadas, boas ou más) que nunca esquecem! Gosto de sonhar com os que partiram, mas sonhos bons e já tem acontecido. Mas também já sonhei coisas Horríveis, essas vou tentado esquecer. Gostei de ler

    Beijinhos. boa tarde!

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    1. Também tento esquecer os sonhos com coisas horríveis
      um beijinho e uma boa tarde

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  7. Curioso como eu recordo a avó Piedade, que morreu quando tinha apenas 6 anos.
    Abraço e saúde

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  8. Ainda mais nova do que eu era
    um abraço e saúde também

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