Estaria
ali há minutos ou horas?
Escurecera
mas ainda conseguia ver o extenso areal à sua frente, as ondas cinzentas num
vai‑vem ritmado de avanços e recuos. Ouvia-as e ao vento, a famosa nortada.
Atrás
de si as suas pegadas, tão solitárias como ele se sentia.
Sentara-se ou deixara-se cair sobre a areia e
ali ficara.
Com
a mão esquerda apertava com força o envelope rasgado.
No
bolso das calças a carta amarfanhada. Fora impressa, processada em word,
impessoal.
Mas
no envelope ela escrevera o seu nome e endereço com uma caneta de tinta azul.
A
letra dela.
Acreditava
que a reconheceria entre mil, as vogais redondas e infantis, as consoantes
finas e meio desligadas.
Houve
um tempo em que tinham trocado notas. Após os encontros breves em que o tempo
voava, ela deixava-lhe papeizinhos amarelos com duas ou três frases,
brincadeiras ou os mais sérios: “gosto de ti”, “é bom que não me esqueças”, “vê
se me escreves”. Chegou a responder-lhe, mas a brincar. Escreveu uma vez num
dos papéis apenas “escrevo-te”.
As
notas dela faziam-no sorrir, aqueciam-no.
Queria
tê-las guardado.
Não
percebeu porque é que ela mudou. O que é que ele fez de mal, ou o que deveria
ter feito e não fez. Talvez simplesmente o amor que ela dizia sentir por ele se
tenha gasto.
A
carta fora para ela o ponto final. Os últimos assuntos a tratar, para onde
enviara as prendas e roupas. Dentro do envelope vinha também o duplicado da
chave da casa dele.
Ele
não aceitou. Ligou-lhe, mas ela não atendeu. Não lhe respondeu aos emails e às
mensagens. Tentou forçar encontros, mas interpuseram-se amigos ou colegas:
“Acabou. Aceita isso.”
Ali
seria o seu ponto final.
Lançou
a carta à água. Depois o envelope.
Disse
para si mesmo: Acabou.
E
foi-se embora.
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