sexta-feira, outubro 11, 2019

Post 7225 - Desafio de Escrita 1/10 - Audiência de julgmaento

A audiência teve início poucos minutos após a hora marcada. O tribunal antigo escapara à última Reforma Judicial, na sua sala imponente, apesar da mobília gasta, da bandeira ao fundo descolorida e dos vidros da janela meio rachados, continuavam a realizar-se julgamentos.
Na sala esperava pacientemente o Sr. Lopes, administrativo reformado, vinha para lá passar as tardes. Já o conheciam e cumprimentavam na secretaria, avisavam-no das marcações de julgamentos crime, os seus preferidos. Como o daquela tarde.
Quando o Juiz entrou, levantaram-se todos. O arguido era um homem novo, motorista de pesados. Acusado de violência doméstica, quis falar. Negou tudo, excepto a relação de alguns anos com a ofendida. Mas não foi ela que o deixou, ele é que a mandou embora, quis evidenciar. De resto, era tudo mentira. Ele nem estava cá na altura, mas na França.
Entrou depois a ofendida. Queria acabar com o processo, mas não podia, é um crime público, não podia desistir da queixa. Não queria falar, mas os factos descritos na acusação teriam alegadamente ocorrido depois da separação. Tinha de prestar depoimento. Esperava-se que confirmasse o que constava da acusação, construída com base na participação e nas suas declarações. Ela queria falar do antes, de quando estavam juntos, mas ele era acusado do que se passara depois.
Perguntou o juiz: “Então ele ligava-lhe, ia procura-la a sua casa e no seu local de trabalho?” Ela responde que “sim, que a mãe dele fazia isso…”
- A mãe dele?
- Sim, a mãe dele. Tomou as dores do filho e perseguia-a, insultava-a.
Mas e o arguido?” Insistiu o Juiz?
- Ele não fez nada, a mãe dele é que a perseguia, não aceitou que terminassem, culpava-a e
Interrompeu-a o Juiz, “mas foi a mãe dele?”
- Sim, a mãe dele…
O arguido foi absolvido.

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