Cheguei de noite à
pequena cidade onde iria viver o próximo ano. Arrendara um apartamento pelo
telefone e foi para lá que me dirigi. Como combinado, tinham deixado as chaves
no segundo vaso que ladeava as escadas. A fechadura da porta cedeu com um
pequeno estalido, permitindo-me a entrada. Levava uma pequena lanterna e com
ela consegui aceder ao quadro eléctrico e depois aos interruptores, e fez-se
luz. Ténue e amarela, revelou o que ficava para além do hall, a sala com
cozinha, o pequeno quarto, com a lavandaria e o quarto de banho ao lado. Estava
tão cansada que me deitei no sofá, tapei‑me com o sobretudo e adormeci.
Comecei a despertar
lentamente pela estranheza do que me rodeava. Os sons e cheiros diferentes dos habituais.
Abri os olhos e assustei-me. Ao meu nível, meio curvado, um homem olhava para
mim. Ergui-me de supetão:
- Mas quem é você? O que
faz aqui?
Não me respondeu logo.
Continuou a olhar-me sem expressar qualquer emoção. Os seus olhos do azul mais
claro e transparente que alguma vez vira. Então hesitantemente, e com uma voz
infantil, perguntou-me:
- Tia?
- Não sou sua tia! Quem é
você?
- Tião!
- Chama-se Tião?
Acenou que sim e sorriu.
Era filho dos meus
vizinhos. Tinha entrado pela porta que eu deixara aberta.
Ter‑me tratado de tia foi
um grande elogio por comparar-me à tia que adorava. Deu-me a mão com a
confiança de uma criança, e de mãos dadas fomos à procura dos seus pais.
Encontrei nele o meu
primeiro amigo na nova morada, mas a partir daí tive mais cuidado em trancar a
porta.
Um conto encantador... e que como sempre, nos prende e nos surpreende, até ao fim!...
ResponderEliminarGostei imenso! Beijinho
Ana
Muito obrigada Ana
ResponderEliminarum beijinho