domingo, abril 14, 2019

Post 7047 - Desafio de Escrita 9/10


A Ilha dos corações partidos 
Há muitos anos atrás, quando a natureza confiava no homem e facilmente lhe oferecia abrigo e comida, todos apenas se ocupavam na tarefa de ser felizes. Alguns seguiam os seus próprios prazeres, outros resolviam apaixonar-se e viver em função de um outro. Havia no entanto uns poucos que afirmavam ter o coração despedaçado. Numa languidez e melancolia pecaminosa ou numa intranquilidade nervosa aborreciam os demais que não os compreendiam. Não percebiam porque criavam problemas que não existiam. 
E o que não percebiam, temiam.
Por medo resolveram que esses poucos deveriam ser exilados numa ilha cujo acesso difícil somente era possível em alguns dias do ano, quando o vento acalmava e a maré subia, permitindo que os barcos não se despedaçassem nos rochedos.
Dito e feito, mal era observado o problema e depois de deixarem passar uns poucos dias para terem a certeza que estava em causa o mal condenado e não uma dor de barriga, eram remetidos para a ilha, sem apelo nem agravo.
Esta até então desabitada passou a ser conhecida pela Ilha dos corações partidos.
Ora, não obstante todos os cuidados, o número de afectados aumentava de dia para dia e alguns até pareciam ansiar pela condenação ao exílio.
Entre os imunes estavam os mais velhos, mais avisados e experientes. Até que um dia repararam que entre eles já não cresciam crianças. Temeram então o pior e julgaram-se os últimos homens da terra porque os da ilha apenas poderiam ter morrido de inanição.
Quando apenas restava um, meio enlouquecido pela solidão, resolveu ir até à Ilha para aí morrer.
Com dificuldade contornou os rochedos e quando se aproximava julgou ser vítima de uma alucinação porque ouviu risos.
Quando finalmente chegou à praia foi rodeado por crianças, jovens, velhos, homens e mulheres, aparentemente nem infelizes ou felizes, contudo vivos.

1 comentário:

  1. Mais uma vez me encantei com a sua escrita.
    Para quando um livro, Gabi?
    Abraço e uma boa semana

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