Todas as noites a velha Dores vai, ponto a ponto, costurando, com os sonhos de milhares de crianças de todo o mundo, as nuvens que devolverão a paz ao mundo. O pequeno Pedroto é a testemunha e o herdeiro do mistério. É a ele que cabe a missão de devolver as nuvens ao mundo, carregadas de sonhos.
Na contracapa sobre o autor:
"João Paulo Silva é natural de Leiria, onde nasceu em 1972. Actualmente é chefe de redacção do Diário de Leiria, tendo já trabalhado como jornalista em diversos jornais regionais e no Correio da Manhã. Lençol de Sonhos é a sua primeira obra literária publicada por uma editora de âmbito nacional."
Lençol de Sonhos
por João Paulo Silva
uma crítica de Jorge Candeias
publicada em 03.03.2004
Sabem como é quando as histórias se vão construindo
quase sem se dar por isso, à medida que se avança na leitura? Sabem como é
quando elas parece que vão deixando cair migalhas de curiosidade ao longo do
caminho para que quem vem atrás, ou seja, o leitor, as vá seguindo,
subtilmente, condizido pela mão mas sentindo-se apenas a passear?
Lençol de Sonhos,
de João Paulo Silva, é assim.
Trata-se de uma pequena noveleta, que, não por acaso,
venceu a edição 2001 do Prémio Revelação Manuel Teixeira Gomes. Mas isso não
basta para a trazer ao E-nigma: é preciso também possuir o fantástico como
elemento principal, quer seja único quer não o seja. Não há problema: Lençol de Sonhos é
uma história de realismo mágico. Ou uma fábula, se olhada de outro ponto de
vista.
A ideia quase parece coisa de história infantil: uma
velha, chamada Dores, tem entre mãos um trabalho que parece infinito, e para
isso precisa de lençóis, muitos lençóis. E um dia, entre os lençós que uma
misteriosa personagem lhe entrega, encontra um rapazito. Pedroto, assim se
chama a criança, vai transformar-se, ao longo dos anos que passa com a velha,
numa mistura entre ajudante e uma espécie de neto, acabando por descobrir o
segredo de Dores, o motivo que a leva a precisar de tanta roupa de cama.
Acontece que os lençóis nesta história de João Paulo
Silva não são apenas rectângulos inertes de pano. Bem pelo contrário: são como
esponjas que absorvem os sonhos de quem neles dorme. E é esse o material com
que a velha trabalha: os sonhos, especialmente os sonhos de crianças como
Pedroto, a partir dos quais faz nuvens, preparadas para, um dia, serem largadas
nos céus e levarem os sonhos das crianças ao mundo inteiro, encerrados em gotas
de água.
Poderia ser coisa de história infantil, não é? Mas as
histórias infantis também se caracterizam por um certo tipo de linguagem, que
aqui não existe, e por uma forma simples de construir uma história. A prosa
de Lençol de Sonhos é adulta e de muito boa qualidade. E a história
está construída de forma relativamente complexa, com os avanços e recuos
necessários para ir deixando cair a informação necessária e suficiente para
tornar claras coisas que são transportadas em curiosidades ao longo de várias
páginas, e para criar novas curiosidades para aquilo que está para vir.
Em literatura, quase tudo está nos pormenores. Uma
mesma ideia-base pode transformar-se em algo ilegível, se mal executada, ou
numa pequena maravilha, se bem executada.
Quanto a Lençol
de Sonhos, não será uma obra-prima, mas é
certamente uma noveleta que abre o apetite para o que João Paulo Silva terá a
mostrar no futuro. Seja no realismo mágico, seja noutro estilo qualquer.
Quatro estrelas."
Kung Hei Fat Choi!
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