segunda-feira, novembro 05, 2018

Post 6879 - Desafio de Escrita 8/10 - Padre




Tudo começou há muitos anos atrás, era ele um jovem Padre, mas Anglicano.
O país atravessava mais uma crise económica e começaram a surgir pela Igreja, sobretudo à noite, várias pessoas, almas perdidas.
Não eram praticantes,  não tinham sido educados na fé cristã. Pouco sabiam de religião, ou sobre a Igreja em que entravam.
Deparavam com um edifício antigo, de tectos altos, filas alinhadas para os fiéis direccionadas para o Altar.
Mais do que consolo, queriam esperança. Convenciam-se que para recomeçar com as suas vidas, tinham primeiro de confessar os seus pecados, ser perdoados.
Viam-no com o traje de padre e exigiam que os ouvisse. Alguns levavam a mal quando tentava explicar-lhes onde estavam. Não havia ali sequer um confessionário, os protestantes não se confessam a um Padre, mas a Deus. Havia outros tão surdos à razão que nem esperavam para despejar um ou outro pecado. Não lhes podia dar a absolvição mas guardava os seus segredos.
Foi-lhe permitido exercer outra profissão e a ironia que sempre o definira levou‑o a enveredar pelo entretenimento como humorista.
Levava aquilo a que assistia no Clube para a Igreja. Conseguiu que os seus sermões chegassem melhor aos crentes.
E fez também o contrário. Passou por episódios estranhos, e gosta de lembrar alguns. Como o grupo a quem mais uma vez tivera de negar a confissão e encontrou à noite no Clube onde se estreava. Não se riram das anedotas que escolheu contar até inventar uma onde eles entravam. Aí riram meio a medo. Terão ficado convencidos que afinal ele não era Padre de todo e deixou que assim pensassem.
Um dia, se não fosse pelo segredo da “confissão” a que se obrigara, gostaria de escrever um livro em que contasse tudo o que lhe acontecia, nos dois mundos, do sacerdócio e do entretenimento.

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