Quando for grande, pensava
dos seis aos dez anos, poderei comprar todos os chocolates e revistas da Mónica
e do Tio Patinhas que eu queira. E não voltar mais à escola.
Aos seis, pela primeira
vez sozinha por opção, num dos baloiços cobiçados do parque no Colégio de
Padres, anormalmente deserto porque todos estavam na festa de Carnaval, vejo o
edifício mais brilhante à medida que escurece, por oposição aos demais, penso
em quem sou, reconheci-me, esta sou eu.
Quando for grande,
decidi aos onze, será para pensar naquilo com que tinha chocado e me afligia,
de onde viemos, para onde vamos, porque afinal serei adulta aos dezoito.
Morreu a minha avó. Não
é algo que acontece só com os outros, por isso, irreal e distante, a morte
acontece-nos a nós. Tive sonhos em que procurava o seu abraço, chi‑coração.
Ouvir os apologistas de como é bom ser criança quando me afundava em
preocupações fez-me pensar que ser adulta devia ser uma droga.
Fechei-me mais. No
silêncio vejo-me melhor e aos outros.
Quando for grande, pensava
aos dezoito, não o posso ser agora quando me vejo tão pequena - entrei na
faculdade, mais entregue a mim própria, com passe e pouco dinheiro, conheço os
números e o caminho dos autocarros, o mundo aumentou essa distância - sê-lo-ei
quando acabar o curso?
Terminei a faculdade,
não sei se vou conseguir emprego. Devia ser adulta. Vejo‑me sem objectivos –
antes eram balizas, os exames, o passar de ano.
Procuro caber no perfil
da profissão, primeiro de advogada, depois, a ironia para quem adoptou como lema
não julgar ninguém.
Quando fosse grande
queria ter trabalho, a carta de condução, conduzir um carro, viver um grande
amor.
Cheguei lá.
Sinto-me pequena.
Diminuem as possibilidades enquanto a vida acontece.
Nunca serei grande. Não
o quero ser.
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